Um cartão grosso de trinta por vinte e cinco centímetros, bolorento do já extenso correr dos tempos, serve de base ao meu retrato de eleição. Essa imagem sépia de eras passadas, delicia-me na devolução fiel que sempre me faz, em cada nova mirada, dos rostos nunca tocados ou beijados de tios e avós, centenários já.
A chapa foi impressa, algures entre meados dos anos oitenta ou noventa da centúria de oitocentos. Sei-o, porque a viuvez do negro trajar daquela serena Mãe, espelha a ausência do seu Homem, desequilibrando tão rigoroso retrato de família. Quebra-se a harmonia nessa silhueta inexistente do Avô Pedro, o patriarca ausente, último dos Barbosa da sua geração no solar da Fontinha, gerado nestas terras de Beduído[1], mas finado longe, na terra dos Arcebispos[2], nos idos de 1885, com oitenta e nove anos de robustez e resistência. Sei-o igualmente, pois a inenarrável alegria de viver, a espontaneidade e exuberância que sempre brotaram do espírito da decana Avó Mariana, soçobrariam ao fechar eterno dos seus penetrantes olhos azuis, dez anos mais tarde[3].
O estúdio fotográfico não surge revelado, ou sequer em borrão de carimbo nas margens cartonadas. Estática, a cena pode ter ocorrido em Estarreja, por ocasião das festas a Santiago em Braga, celebrando o aniversário da Avó, ou até mesmo estando a família “a banhos” na Póvoa de Varzim, como era hábito nos meses quentes de verão.
Recomendavam então os mestres do retrato, a pose imutável. Intermináveis segundos asseguravam a exposição à luz e consequente fixação da imagem no brometo de prata. Assim, qualquer movimento, ainda que imperceptível, anularia todo o esforço anterior. Eis revelada, na sua simplicidade técnica, a razão destas expressões sisudas tão características nos retratos de antanho, os olhares fixos, arregalados ou semicerrados, cabeças e braços apoiados, mãos crispadas na busca da naturalidade perdida. A essa dura prova, sem dúvida importante no desempenho da sociedade de fin de siécle, não escapou também a Família Barbosa, de Estarreja, como vimos referindo.
Fotografia de grupo da família Barbosa Sottomayor, datada da última década do século XIX |
Imagino a chegada ao exíguo estúdio do fotógrafo, com pompa e circunstância. Duas caleches, uma de um negro luzidio, pequeno coupé de dois lugares, cavalo bege calçado de branco e crina alourada, conduzida pelo velho e fiel cocheiro, da qual se apearam Mariana e seu filho mais velho, Francisco Barbosa, digno e respeitável Presidente da Câmara Municipal de Estarreja[4]. Logo atrás parava outra, previamente alugada para o efeito, estofos de couro marron sobre pintura grená, possante alimária branca calçada de negro, longa crina do mesmo, e condutor a condizer.
Oscilou o conjunto, impulsionado pelo molejo, à descida dos seus quatro ocupantes. Primeiro o “mano” Agostinho, Delegado do Procurador Régio[5], recentemente transferido de Torres Vedras para a 6ª Vara Cível da capital. Educado e solícito, apresentou a mão num célere auxílio à saída da irmã mais velha, a Ritinha[6], diminutivo carinhoso que lhe ficara do tratamento que o pai lhe dedicava. Trajava boas fazendas, moldadas num elegante casaco rosa-velho, bem cintado e drapeado, com aplicações de renda de um negro contrastante; o corpete, bem marcado, rematava numa rígida gola, onde um pregador de ouro sobressaía dos mesmos tons e arrendados. Graciosa no movimento, apesar da longa e complicada saia e da crónica maleita reumática de que padecia, Rita de Cassia agradeceu, levando por instinto a mão livre ao chapéu que a brisa ameaçava. Descia agora, com renovados cuidados na preservação das “anquinhas”, a Benedicta[7], irmã “do meio”, dez reis de gente muito amada, que governava o lar da Fontinha desde o recente falecimento da cunhada, Maria Cândida, de parto mal sucedido. Vestia dons tons de verde entre o tecido azeitona e a renda mais escura, e cobria-se sob um chapéu creme, de sobriedade intocável. Finalmente apeou-se a mais nova do grupo, Henriqueta[8], soerguendo levemente a rodada saia de linho, de padrão enxadrezado de verde água, amarelo limão e branco natural, compondo o modelo num casaco cintado e pregueado. Olhou em redor, ajeitando também a aba do chapéu. Marejou-se-lhe então o doce olhar azul, reflectindo a angústia de uma jovem mãe, que a alguma distância mendigava o pão do dia para o frágil rebento, que já nem chorava, de exaustão! Caritativa, solucionou de pronto a necessidade óbvia nuns trocados, recomendando-lhe que a procurasse mais adiante nesse dia, para que melhor a pudesse ajudar. Reposta a normalidade, o grupo cruzou a ombreira, desaparecendo no interior da loja do fotógrafo.
Vénias e mesuras tão respeitosas quanto subservientes, terão conduzido os Barbosa à sala-estúdio onde um cheiro a cenário clássico aguardava os personagens. Alto, magro e dotado de longas barbas grisalhas, o artista da fotografia contrastava com a baixa estatura e robustez da matéria que se lhe deparava. Algumas correcções se lhe afiguraram evidentes, e desde logo deu início à composição da cena.
Um trio de cadeiras Thonet Nº 14 marcaram o enquadramento. Com a ligeireza possível dos seus oitenta anos já feitos, a Avó Mariana foi a primeira a sentar-se, ocupando o lugar de honra, ao centro. À sua direita, a filha mais velha, Rita de Cassia, tomou depois assento, repousando no colo as mãos sobrepostas segurando um leque, conveniente adereço cedido para a ocasião. Era a mais alta das irmãs, e isso ficou patente quando, em seguida, Maria Henriqueta tomou assento na cadeira ainda vaga. Uma almofada sobre o entrançado de “palhinha” do assento, reajustou o alinhamento das cabeças; a “menina” pôde então descansar o braço direito no regaço, e apoiar a cabeça num delicado equilíbrio dos dedos da mão contrária. Coube então a vez a Maria Benedicta, que também não dispensou o cómodo uso do leque, como forma de encontrar a indicada posição de mãos. Tomou lugar de pé, num plano posterior quiçá reflexivo da reserva que sempre a orientou, e sobre o eixo geográfico da futura chapa, ela, que relembro, era agora o pilar feminino da Fontinha.
Avançaram então os irmãos, surgindo no enquadramento, ambos impecáveis nos contrastes dos ternos de claro linho e escura fazenda, corte muito actual. Honra feita ao primogénito[9], posicionou-se em primeiro lugar Francisco Barbosa, de pé, por detrás da mãe e da Ritinha, a quem deu a direita. Aprumou a figura – que por sinal não primava pelo alongamento, como aliás, todos os frutos gerados daquela cepa oriunda das margens do Antuã – e com firmeza fez esticar o colete, deixando-lhe a bainha bem agarrada entre o indicador e o polegar esquerdos, cabendo ao respectivo anelar, a honrosa tarefa de exibir o “cachucho” plúmbeo, com que lacrava as insígnias[10] dos seus maiores. Quase em simultâneo, no lado oposto da cena, o “benjamim” Agostinho acompanhava também de pé, mas a três quartos, a “caçula” Henriqueta, deixando correr o braço direito ao longo do corpo, enquanto o esquerdo se aninhava à ilharga, com escassa naturalidade. Tudo parecia perfeito, nesta altura, não fora a pouca altura da Benedicta. Urgia resolver esse desconforto da natureza, devolvendo-lhe a média para a posteridade! Uma banqueta de couro, e estava o susto passado; “crescia” a mana, escondia-se o plinto atrás das saias maternas!
Era chegada a hora tão desejada. O longo instante do retrato exigia a mais perfeita quietude. Nem um singelo pestanejar se admitia, e a melhor forma de o controlar era fixar o vazio, concentrar os pensamentos. Refugiou-se o retratista sob o pano negro que cobria a câmara escura, cujo olho ameaçava aquela meia dúzia de singelas almas que, impotentes e abnegadas, o contemplavam não sem algum receio. À chamada de atenção, seguiu-se o abrir do diafragma, iniciando-se a exposição da imagem contida no feixe luminoso que, certeiro, obturava a total ausência de luz.
Esgotava-se já o primeiro segundo de imobilidade… Olhar de azul sereno, a anciã recordava o seu Pedro. Aquele jovem cheio de ideais que começara a frequentar a casa, teria ela os seus dezoito anos, trazido pelo saudoso António Bernardo[11], que o conhecera dos tempos de estudante em Coimbra, e pelo amor à causa do Sr. D. Miguel que partilhava com Francisco Bernardo[12] – o “Morgado Triste” – patriarca dos Sá Sotto-Mayor de Braga. Amara-o desde sempre, e ao arrepio do bom senso, movida pela alegria e vivacidade que sempre a caracterizou, aceitara o seu cortejo. Pedro passava temporadas na casa do irmão, o Cónego Francisco Barbosa[13], Presidente do Tribunal Pontifício da Diocese de Braga, o qual fizera já correr os costumados papéis de modo a torna-lo Desembargador da Relação Eclesiástica; ambos se tinham licenciado em Coimbra, na Faculdade de Cânones, e para Pedro, o aguardado despacho chegou no ano de 1827. Contudo, entre Braga e Parada de Tibães, se tornaram mais acesos os encontros amorosos, e nesse mesmo ano – recorda Mariana num misto de angústia e saudade – houve que revelar aos mais próximos a gravidez não esperada do Francisco, o mesmo que agora chefia os destinos de Estarreja!
Corre lento o segundo próximo… À viúva afluem as imagens do secretismo que então se gerou, do primogénito levado para longe, crescendo entre os tios paternos na distante Antuã, e Pedro a tomar posse do seu honroso e rentável cargo, sujeito à injusta lei do celibato, mas não deixando de a visitar, sempre que a oportunidade espreitava. “Triste”, o Morgado fechou os olhos à situação, por muito gostar da filha e do seu quase-genro, e Sua Senhoria, o “genioso” Cónego Barbosa fez valer a sua respeitada opinião. Ainda não haviam passado três anos, e já nascia Rita de Cassia, que cresceu na casa daquele prelado, na Rua de Santo António das Travessas, em Braga. Ali aparecia, de quando em vez, o pai Pedro, saudoso, protegido pelo breu da noite, justificando à filha as longas ausências, com “as lições que tinha de dar aos meninos”![14] Também a guerra civil de 32-34 veio aumentar ainda mais a separação do casal, investindo a família Sá Sotto-Mayor boa parte da sua fortuna no apoio à causa miguelista[15]. A lealdade a D. Miguel valera a Pedro Barbosa, a permissão de uso da Medalha de Ouro da Sua Real Efígie[16], o título de Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição, e o rendimento de Fidalgo da Casa Real. A instância dos bons ventos que ainda sopravam na barca legitimista, Pedro acabaria por deixar o Desembargo, para assumir o cargo de Juiz de Fora na vila de Mogadouro[17], em Fevereiro de 1834. Nessa altura – recorda Mariana –, já nascera o José Luís[18] que está hoje do outro lado do oceano, em terras de Campos, no Brasil, razoável “barão” do café.
Três segundos se passaram já… A lei do celibato deixara de ser impedimento – conforta-se a Mãe fixando a caixa do fotógrafo –, mas em breves meses, o descalabro de Évora-Monte deitara por terra as suas esperanças. Intransigente miguelista, Pedro Barbosa fora demitido do seu cargo[19], obrigado a fugir dos liberais que o perseguiram – a ele como a tantos outros –, pelas acidentadas veredas e atalhos serranos, a caminho da vizinha Espanha, buscando protecção. E como ele gostava de recordar – já velho – esses tempos de aventura que culminaram na excitante travessia do Douro, numa improvisada jangada, alvo das balas contrárias, frente ao pequeno povoado fronteiriço de Barca d’Alva[20]. Um longo triénio passado “a monte”, algumas vezes escondido em Braga, sob a alçada protectora do irmão, até que o país se acalmasse um pouco mais, e o tão desejado casamento acontecesse, por procuração e dispensado de proclamas, em Gondizalves, na intimidade da capela do morgadio dos Sá Sotto-Mayor[21]. Reuniram-se até que a morte os separasse, no ano de 1839[22], sempre vivendo desde então na Quinta do Lugar de Parada de Tibães. Que orgulho se escapava agora – por entre a imobilidade fotográfica –, da serena expressão de Mariana, revivendo naquele interminável terceiro segundo de espera, a fibra com que os dois enfrentaram as dificuldades, sociais e financeiras, acarretadas pela decisão honrada do fiel legitimista, em não mais exercer cargos públicos[23]. Escoava-se o tempo no eco das palavras dos amigos:
Três segundos se passaram já… A lei do celibato deixara de ser impedimento – conforta-se a Mãe fixando a caixa do fotógrafo –, mas em breves meses, o descalabro de Évora-Monte deitara por terra as suas esperanças. Intransigente miguelista, Pedro Barbosa fora demitido do seu cargo[19], obrigado a fugir dos liberais que o perseguiram – a ele como a tantos outros –, pelas acidentadas veredas e atalhos serranos, a caminho da vizinha Espanha, buscando protecção. E como ele gostava de recordar – já velho – esses tempos de aventura que culminaram na excitante travessia do Douro, numa improvisada jangada, alvo das balas contrárias, frente ao pequeno povoado fronteiriço de Barca d’Alva[20]. Um longo triénio passado “a monte”, algumas vezes escondido em Braga, sob a alçada protectora do irmão, até que o país se acalmasse um pouco mais, e o tão desejado casamento acontecesse, por procuração e dispensado de proclamas, em Gondizalves, na intimidade da capela do morgadio dos Sá Sotto-Mayor[21]. Reuniram-se até que a morte os separasse, no ano de 1839[22], sempre vivendo desde então na Quinta do Lugar de Parada de Tibães. Que orgulho se escapava agora – por entre a imobilidade fotográfica –, da serena expressão de Mariana, revivendo naquele interminável terceiro segundo de espera, a fibra com que os dois enfrentaram as dificuldades, sociais e financeiras, acarretadas pela decisão honrada do fiel legitimista, em não mais exercer cargos públicos[23]. Escoava-se o tempo no eco das palavras dos amigos:
- Homem de um só rosto, de um só parecer, de antes quebrar que torcer![24] Assim era o marido daquela viúva; esse fora o Pai dos Barbosa Sottomayor, da Fontinha.
Suspenso o tempo do retrato, permito-me uma consideração, neste momento tão a contexto. É que se Estarreja algo deve ao seu “quase eterno” Presidente da Câmara – e muitos o aceitarão como um facto –, então ficará a sua história para sempre grata, às dificuldades porque passou a relação deste casal. Se assim o não fora, decerto o pequeno Francisco teria crescido em Braga, junto dos pais, e a estreita relação dos Barbosa da Fontinha com a sua região de origem, terminaria com o óbito de Joaquim Calixto[25], irmão mais novo de Pedro, que sempre ali viveu, servindo o concelho como Juiz ordinário dos Órfãos e da Paz, Presidente da Câmara, Administrador do Concelho, Membro da Junta Geral do Distrito de Aveiro e Tenente-Coronel Comandante do Batalhão Nacional de Estarreja. Facto curioso: era liberal; tal como o primogénito Manuel Bernardo[26], hipotético sucessor na Casa paterna, Bacharel em Direito, que dera a vida pela causa enquanto Capitão da 1ª Companhia de Voluntários de Vila Nova, ferido de morte por uma bala perdida, já os combates na Serra do Pilar se aproximavam do termo! Até o benjamim José Luís[27] seguira aquele partido, deixando mais tarde o convívio dos irmãos, para casar e viver nos Arcos de Valdevez. Acredite-se ou não, mas fazendo fé nas “crónicas” de família, “a diferença de opiniões não obstou nunca à boa amizade que os ligava”[28].
[1] Pedro Barbosa do Couto Cunha e Mello nasceu na Casa da Fontinha em Estarreja. No livro de registos de Baptizados da freguesia de S. Tiago de Beduído, consta que era “filho do Dr. Agostinho Luiz Marques do Couto e de sua mulher D. Maria Clara Benedita Barbosa de Mello do lugar do Paço desta freguesia, neto paterno do Dr. Manuel Marques Fontinha e de Maria Marques do Couto da freguesia de Pardilhó e materno de Francisco Barbosa da Cunha e de D. Arcangela Josefa Micaela do Amaral, da vila de Ovar. Nasceu a 1 de Abril de 1796 e foi baptisado por mim Domingos Barbosa Ferreira e Albuquerque, leitor e coadjutor desta Igreja. Foram padrinhos o Licenceado Dr. Joaquim José Marques do Couto, Desembargador da Relação de Braga (tio paterno, que assinou por procuração passada pelo irmão Pedro José Marques do Couto, também Desembargador da Relação Eclesiástica de Braga) e o Reverendo Frei Manuel Marques do Couto, de Pardilhó, que tocou pela invocação de Nossa Senhora das Dores, como madrinha, estando presentes, como testemunhas, o Padre Manuel da Costa desta freguesia e António Marques do Couto, de Pardilhó”.
[2] VASCONCELOS, Maria Assunção J. de, A Casa Grande da Rua de Sto. António das Travessas, Separata de FORUM, Braga, 12/13, Julho 92/Janeiro 93, Arquivo Distrital de Braga, fl. 28. Faleceu nesta sua Casa a 1 de Dezembro de 1885, teve “pomposos ofícios” de corpo presente na Igreja do Seminário no dia 3, e foi sepultado no jazigo de família no Cemitério do Monte d’Arcos, em Braga.
[3] Ibidem. Mariana Cândida de Sá Sotto-maior faleceu na mesma Casa, onde viveu após a morte do marido, em 27 de Fevereiro de 1895. Jaz sepultada ao pé do marido, com a indicação de ter nascido a 12 de Outubro de 1806.
[4] O Jornal d’Estarreja, Estarreja, Ano XXXV, Nº 1747, 5 de Junho de 1921. Na notícia relativa ao óbito de Francisco Barbosa do Couto Cunha Sotto Maior, pode ler-se que foi Presidente daquela edilidade “de 1886 a 1892, de 1896 a 1898, e ainda noutros triénios até 1917”. Nas notas da família escritas por seu sobrinho António Fernando de Sequeira Barbosa Sottomayor, que com ele privou, especifica o autor que seu tio abandonou a política em 1910 com a queda da monarquia, “se bem que ainda ocupasse a Presidência da Câmara em 1917, já com 90 anos, no curto período da situação do Dr. Sidónio Pais”.
[5] Diário de Notícias, Lisboa, 12 de Abril de 1923. Noticiando o falecimento de Agostinho Luís Barbosa do Couto Cunha Sottomayor, refere-se que nascera em S. Paio de Parada de Tibães, a 20 de Outubro de 1845, e que “foi nomeado delegado do Procurador Régio para Ponta Delgada em 1881, donde mais tarde foi transferido para Porto de Mós e depois para Torres Vedras, comarca em que exerceu de tal forma as funções do seu cargo, principalmente pelos serviços inteligentes no processo do assassínio do engenheiro francês Abel Marty, que lhe valeu ser colocado, por distinção, em 1886 (Auto de posse em 13 de Dezembro de 1886), na 6ª vara cível de Lisboa”.
[6] Rita de Cassia Barbosa do Couto Cunha Sotto-Mayor nasceu em Braga, a 22 de Maio de 1830, data que consta no registo do jazigo de família do Cemitério do Monte d’Arcos, onde foi sepultada depois do óbito, ocorrido a 11 de Março de 1899.
[7] O Jornal d’Estarreja, Estarreja, 10 de Fevereiro de 1918. No texto que noticia a sua morte pode ler-se que Maria Benedicta Barbosa do Couto Cunha Sottomayor “nasceu na Casa do Lugar de S. Paio de Parada de Tibães, Braga, a 27 de Agosto de 1839”.
[8] Maria Henriqueta Barbosa do Couto Cunha Sottomayor nasceu na Casa do Lugar de S. Paio de Parada de Tibães, Braga, a 3 de Maio de 1847, data que consta no registo do jazigo de família do Cemitério do Monte d’Arcos, onde foi sepultada depois do óbito, ocorrido a 31 de Outubro de 1914.
[9] O Jornal d’Estarreja, Estarreja, Ano XXXV, Nº 1747, 5 de Junho de 1921. A notícia do seu óbito informa que “nasceu em Braga em 26 de Dezembro de 1827”. São igualmente esses, os dados constantes noutros excertos informativos da época, e nos vários manuscritos genealógicos pertencentes à família. A data de 20 de Dezembro, avançada em TAVARES, José, Francisco Barbosa do Couto Cunha Sotto-Maior no centenário do seu acesso à Presidência da Câmara de Estarreja, Palestra proferida no Rotary Clube de Estarreja em 1986, Câmara Municipal de Estarreja, 1997, parece ser erro, seja de interpretação ou gralha de impressão.
[10] A pedra de armas da Casa da Fontinha, depois do incêndio que em 1985 destruiu o solar, encontra-se actualmente no logradouro da antiga Casa dos Morgados de Santo António da Praça, hoje Casa da Cultura de Estarreja, frente ao edifício dos Paços do Concelho que Francisco Barbosa mandou edificar. Esculpido em meados do século XIX o brasão esquartelado, apresenta no I quartel as armas de Barbosa (dos Capitães de Ovar), no II de Melo (do Morgadio da Torre de Sampaio em Mouçós, Vila Real), no III as armas modernas dos Cunha, senhores de Tábua (do Morgadio da Quinta do Mato em Salreu), e no IV as dos Couto (dos Marques do Couto, de Pardilhó), tendo por timbre o leão dos Barbosa, sainte do elmo, carregando na espádua um crescente invertido, peça que não é referida por Braamcamp Freire na sua “Armaria Portuguesa”, nem no “Armorial Lusitano” de Martins Zuquete ou no “Armorial Portuguez” de Santos Ferreira, mas que aparece assim descrita na “Pedatura Lusitana” de Alão de Morais.
[11] MACHADO, José de Sousa, Últimas Gerações de Entre Douro e Minho, Livro II, Braga, Edição do Autor, 1932, fls. 358-359, MACHADO, José Timóteo Montalvão, Dos Pizarros de Espanha aos de Portugal e Brasil, Lisboa, 1970, fls. 401-402. António Caetano de Sá Sotto-Mayor era o nome de baptismo, mas a família tratava-o por António Bernardo. Irmão mais velho de Mariana, nasceu em Braga, na casa de seus pais, ao Campo da Vinha, em 6 de Abril de 1799. Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, foi Juiz de Fora em Caminha, e sucedeu em toda a Casa paterna com excepção da Quinta do Lugar de S. Paio de Parada de Tibães, que coube por testamento, a sua irmã Mariana. Era convicto partidário da causa absolutista, tal como toda a família, e por ela se bateu enquanto Tenente de Voluntários Realistas, sendo ferido em combate no ano de 1833. Faleceu em Braga, a 3 de Maio de 1867.
[12] MACHADO, José de Sousa, op. cit., MACHADO, J. T. Montalvão, op. cit., SOTTOMAYOR, Dom Duarte Nuno de, Os Sottomayor na História de Portugal, Lisboa, 2000, fls. 126-127. Francisco Bernardo de Sá Sotto-Mayor, também conhecido pela alcunha de “Morgado Triste” (Montalvão Machado erra ao atribui-la ao filho António Bernardo), nasceu na Casa do Campo da Vinha, em Braga, a 21 de Julho de 1774. Como tenente de Cavalaria em Olivença, participou na “Guerra das Laranjas”, com especial relevo no cerco de Campo Maior, em 1801, e durante as Invasões Francesas disciplinou e comandou as ordenanças do Couto de Tibães, em Braga. Na sua cidade exerceu, entre outros, os cargos de Almotacê, Vereador e de Juiz de Fora e do Crime, tendo sido durante doze dias do mês de Fevereiro de 1827, a única autoridade a governar a cidade. Morreu aos 77 anos, em Parada de Tibães, a 8 de Janeiro de 1852.
[13] No livro de registo de baptismos da freguesia de S. Tiago de Beduído, Estarreja, consta o registo do nascimento de Francisco Barbosa do Couto Cunha e Mello, a 4 de Fevereiro de 1795. SOTTOMAYOR, Agostinho barbosa de, SOTTOMAYOR, Francisco Barbosa de, Livro manuscrito de apontamentos genealógicos. Neste nobiliário familiar, existente em 1925 na biblioteca do Conde de Azevedo, e copiado nesse mesmo ano por seu sobrinho António Fernando de Sequeira Barbosa Sottomayor, pode ler-se que “foi Cónego da Sé Primaz, por renúncia de seu tio Bernardo José Marques do Couto, Cavaleiro da Conceição e Desembargador do Tribunal da Relação Pontifícia de Braga. Faleceu em Braga a 12 de Maio de 1871. Jaz em uma das catacumbas do Cemitério Público daquela cidade. (Em nota: Foi removida a sua ossada por seu sobrinho Francisco Barbosa para um dos gavetões do Jazigo de família que mandou construir no mesmo cemitério). António Fernando acrescenta ainda nas suas notas, que o Tio tomou posse do canonicato a 15 de Abril de 1820, foi despachado Cavaleiro de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, com tratamento de Senhoria, a 18 de Maio de 1823, e foi também Presidente do Tribunal Pontifício da Diocese Bracarense.
[14] Informação fornecida por Belmira de Matos Sequeira, cunhada de Rita de Cassia, e recolhida por seu filho António Fernando de Sequeira Barbosa Sottomayor.
[15] SOTTOMAYOR, Dom Duarte Nuno, op. cit.
[16] Gazeta de Lisboa, 24 de Julho de 1829. “Em 8 do corrente mês de Julho foi El Rei Nosso Senhor servido permitir o uso da Medalha de ouro da Sua Real Efígie a Pedro Barbosa Marques do Couto, Desembargador da Relação Metropolitana de Braga”.
[17] MACHADO, José de Sousa, op. cit., fl. 363, SOTTOMAYOR, Agostinho Barbosa de, SOTTOMAYOR, Francisco Barbosa de, op. cit.
[18] Num apontamento genealógico redigido pelo próprio José Luís e enviado do Brasil para seu irmão Agostinho Barbosa de Sottomayor, pode ler-se o seguinte: “Eu Jozé Luiz da Cunha e minha família. Nasci em 1º d’Abril de 1833 (Braga). Vim para o Brazil em 26 de Outubro de 1851 a onde cheguei em 12 de Dezembro do mesmo ano”.
[19] A Nação, Órgão do Partido Legitimista, 1 de Dezembro de 1885. “Quando o Rey Martyr desceu no throno impelido pela força de um conjunto de circunstâncias desgraçadas, sendo das maiores as intrigas, traições e a acção combinada da maçonaria europêa, o integérrimo Magistrado despiu a toga impoluta, ficando em pouco lisonjeiras circunstâncias de fortuna”.
[20] Vide nota 14.
[21] Livro de registo de Casamentos da freguesia de S. Paio de Parada, 1722 a 1863, fl. 71. “Pedro Barbosa Marques do Couto, filho legítimo de Agostinho Marques do Couto e de D. Maria Clara da Cunha e Mello, da Freguesia de S. Tiago de Beduído, Bispado do Porto, Concelho de Estarreja, e D. Mariana Cândida de Sá Sottomayor, filha legítima de Francisco Bernardo de Sá Sottomayor e de sua mulher D. Josefa Severina Soares de Lanções, desta Freguesia de S. Paio de Parada, Couto de Tibães, se receberam hum com o outro na Capela de Nossa Senhora da Esperança, recebendo-a José Luiz Barbosa da Cunha Couto e Mello, irmão do contraente, por procuração bastante que me apresentou, isto sem impedimento algum, assistindo-lhe o Reverendo José António de Castro, Abade de São Martinho de Bruffe com minha licença e estando eu também presente isto aos quatro dias do mez de Outubro do anno de mil oitocentos e trinta e sete estando presentes por testemunhas o Rev.o P.e Frei Joaquim de S. Plácido, Monge de S. Bento e Domingos, solteiro, filho de João do logar da Esperança, Freguesia de Santo André de Gondizalves, na qual Freguezia existe a Capela da Senhora da Esperança, na conformidade do Sagrado Concílio Tridentino e determinações deste Arcebispado e para constar fiz este termo com consentimento do Rev.o Pároco que assigna. Era ut supra. Abade José António de Castro: - O Pároco José Xavier Duarte: - O P.e Frei Joaquim José Máximo de S. Plácido, Monge de S. Bento: - Declaro mais que estes contraentes tiveram dispensa de proclamos que seu theor é o seguinte: Dispenso os proclamos e o Rev.o Pároco da contrahenda assista ao Matrimónio na forma requerida: Braga 1 de Outubro de 1837. Tesoureiro-Mor Vigário Capitular e não continha mais a dita Portaria. Era ut supra: - O Pároco José Xavier Duarte.
[22] Livro de Contas da freguesia de S. Paio de Parada, 1816-1842. “Ano de 1839 – Recebi da entrada de Pedro Barbosa, João Gomes e Maria Teresa (…) 0.400”. Esta entrada era registada sempre que alguém de fora se estabelecia definitivamente numa freguesia, pagando certa quantia ao Pároco da mesma.
[23] A Nação, órgão do Partido Legitimista, 10 de Dezembro de 1885. No elogio fúnebre traçado por aquele jornal, de que era um dos mais antigos assinantes, lê-se a dado passo o seguinte: “Havendo-se dedicado à carreira da magistratura que ilustrou pelo seu espírito de exemplar rectidão, recolheu-se à vida particular, depois da catástrofe de 1834, e nunca solicitou nem quis exercer qualquer cargo público. Se porém, assim, mostrou sempre a sua nobre abnegação, jamais se recusou a prestar à sua causa os mais claros testemunhos da sua dedicação”.
[24] A Nação, 1 de Dezembro de 1885.
[25] SOTTOMAYOR, Agostinho Barbosa de , SOTTOMAYOR, Francisco Barbosa de, op. cit. Neste manuscrito familiar, diz-se que Joaquim Calixto do Couto Cunha e Mello nasceu na freguesia de Beduído a 14 de Outubro de 1797, e faleceu em Estarreja, a 8 de Junho de 1870. “Jaz sepultado na Capela de Nossa Senhora das Dores de Beduído. (Em nota: Em 1889 jazem os seus restos mortais na capela que seu sobrinho Francisco Barbosa mandou construir no Cemitério de Beduído).
[26] Ibidem. Manuel Bernardo do Couto Cunha e Mello nasceu em Estarreja a 26 de Setembro de 1793 e faleceu no Porto, a 1 de Outubro de 1832. Jaz sepultado na Igreja dos Clérigos, sepultura nº 53.
[27] Ibidem. José Luís do Couto Cunha e Mello nasceu em Beduído, na Casa da Fontinha, a 2 de Abril de 1800. Casou nos Arcos de Valdevez a 2 de Fevereiro de 1843, com D. Maria do Patrocínio de Azevedo Cardoso, filha do Dr. Luís António de Araújo Amorim e Azevedo, Sr. da Casa da Ponte naquela vila, Bacharel em Direito, Desembargador e Corregedor da 2ª Vara Cível da Relação do Porto, e de sua mulher D. Catarina Carolina Cardoso de Mendonça Lacerda. Tiveram geração na vila dos Arcos, onde viveram como opulentos proprietários. José Luís faleceu em 25 de Maio de 1872, e jaz no cemitério daquela vila. SILVA, Armando Barreiros Malheiro da, DAMÁSIO, Luís Pimenta de Castro, SILVA, Guilherme Rego da, Casas armoriadas do Concelho dos Arcos de Valdevez, Volume II, Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez, 1992, fls. 75-81.
[28] Texto extraído das notas familiares redigidas por António Fernando de Sequeira Barbosa Sottomayor.
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