No
regresso à cena que tem proporcionado esta regalada prosa, o quarto segundo da
cronológica imobilidade para o “boneco” pertence, por inteiro, a Rita de
Cassia… Olhar decidido, sobrancelhas arqueadas, denotando autoridade e empresa.
O esforço de concentração a que se impõe, não evita que por aqueles olhos azuis
perpasse um certo frenesim entusiástico, suscitado pela conversa mantida de
manhã com o irmão mais velho. Dissera-lhe aquele, com grata satisfação pelo
alcançado, que o seu bom amigo e conterrâneo Luciano de Castro – Presidente do
Conselho de Ministros do Reino – atendera o pedido de ajuda governamental que
lhe fizera, sendo praticamente garantida a atribuição de um subsídio[1]
anual à obra de Monsenhor Airosa. E a essa piedosa realização, já Rita dedicara
quase vinte anos de vida, desde que conhecera o Padre João Pedro Ferreira
Airosa, numa grande missão por ele organizada em Braga, na Quaresma de 1869.
Nesse ano – recorda Ritinha – se decidiu a fundação do Colégio da Regeneração[2],
dedicado ao apoio e reinserção social de raparigas com problemas familiares e
sociais. Primeiro na Rua do Areal, dois anos mais tarde na Casa da Armada, a
que se seguiu a mudança para a Casa do Avelar de Baixo, e finalmente desde 1874
o Colégio conhecia a sua sede definitiva, no antigo Convento das Irmãs
Concepcionistas, também conhecido por Convento da Conceição. Entusiasmada com o
projecto, sempre com ele cooperou, pertencendo aos seus órgãos directivos[3].
Agora, mal podia esperar para encontrar Monsenhor… revelar-lhe o desafogo da
boa-nova; quiçá também informá-lo, de que andava há tempos a pensar redigir testamento
– e nunca é cedo demais para tal, já que a ninguém cabe as balizas da vida –,
pois queria muito legar à Obra, algum do seu capital[4].
Sexto
segundo… — Só mais um pouco de paciência… — soa o timbre ansioso do fotógrafo.
— Vossas Senhorias, por favor, não se mexam!
Perto
da pensativa Henriqueta, mantinha-se firme seu irmão Agostinho. Baixo como todos
os outros, bigode e cabelo alourado um pouco em desalinho, olhos azuis, porte
distinto. Fixava um ponto totalmente diverso dos restantes visados, reflexo
talvez da orientação que dera à vida, e que o fez tomar outros caminhos que não
os de Braga, ou Estarreja[8].
Encarava, com segurança, dois novos desafios que a vida lhe lançava: a
transferência para Lisboa, e o casamento com a sua Belmira[9],
moça muito prendada, tão interessada quanto culta, talentosa para as artes da
música, capaz de deliciar os seus privilegiados auditores, com sentidas e
virtuosas interpretações de piano ou cítara[10].
Conhecera-a em Torres Vedras, frequentando a casa do seu futuro sogro, entre
Outubro de 1882 e Fevereiro de 1886, tempo em que aquele exerceu o cargo de
juiz da comarca. Conviveram, ele enquanto Delegado do Procurador Régio, e
Joaquim Germano de Sequeira decidindo enquanto Juiz[11],
durante mais de três anos, e a amizade entre ambos foi acontecendo. O
suficiente para o respeitável magistrado, à data também digno Deputado da Nação[12],
aceitar o noivado, assinando nesse sentido um curioso documento, conservado até
à actualidade pelos seus descendentes[13].
No
sétimo instante em que decorre esta acção, Agostinho revisita num flash, o
último ano passado em Torres, já os Matos Sequeira se tinha instalado na
capital, por transferência de Joaquim Germano para a 2ª Vara Cível. Que pena
não terem vivido o inolvidável momento em que entrou a tão desejada “locomotiva sob as abóbadas dos três túneis
vizinhos, com os rolos de fumo a desdobrarem-se pelos cimos dos ulmeiros do
Sisandro”, fazendo assim entrar naquela “rica
povoação, a guarda tão avançada do progresso”[14].
E que frustração, o sogro não ter assistido “de cátedra” ao maior momento de
glória dos seus quarenta anos de vida, quando, depois de ter instruído o
processo, se julgou no tribunal da terra, o bárbaro assassínio do engenheiro
Abel Marty, responsável pelo projecto e construção dos aludidos túneis do novel
caminho de ferro, caso que chocou as mentalidades de todo o país.
Lúcio
Xavier de Lima substituíra o Juiz Sequeira há alguns meses. Naquele 12 de
Agosto era assim quem presidia àquele tribunal. Lido que foi o processo,
seguiu-se-lhe o libelo acusatório, interrogaram-se as testemunhas e réus. Então
coube-lhe a vez – relembra Agostinho, triunfante –, narrando durante quarenta
minutos, perante uma audiência de cento e cinquenta almas, condensada num
espaço destinado a quatro dezenas, os pormenores sórdidos e cruéis das nefastas
acções de Valliño, Barellas e Diaz, sobre o desgraçado Marty. Quando acabou,
tudo ficara claro, “a sua argumentação
levou o convencimento a todos” os jurados, e os advogados mal puderam
representar os seus papéis! Oito horas mais tarde, o juiz Xavier de Lima condenava-os
a “dez anos de prisão maior celular, seguidos de vinte de degredo em possessão
de 1ª classe, com dois anos de prisão lá, ou em alternativa a trinta e um anos
de degredo com dez anos de prisão neste”[15].
Se bem
que o não saiba neste momento, esta brilhante performance granjear-lhe-á o
respeito e a admiração públicas, levando-o a uma carreira judicial de sucesso,
como juiz em Sesimbra, na Póvoa de Varzim, Vieira do Minho, e depois de 1898,
finalmente em Lisboa[16],
onde começou na “Bastilha da Estrela”, no renomeado “tempo do Juiz Veiga”[17],
terminando a carreira na 5ª Vara, no ano de 1917, vítima política de arbitrária
aposentação[18],
que o deixou “taciturno e irritável”[19].
Última das herdeiras, Benedicta doou-lhe em vida (1914) a Quinta do Lugar em
Parada de Tibães, onde os seus filhos, netos e bisnetos se passaram a encontrar
em regaladas férias de verão, mantendo desse modo activo até ao tempo presente,
o laço de união dos Barbosa de Estarreja, à cidade dos Arcebispos.
Grata
é a função deste modesto escriba, ao ter na ponta do lápis o poder da suspensão
temporal. Pode assim dar-se ao luxo de novamente congelar o tempo fotográfico,
em prole de uma explicação que urge. Qual a razão de tão forte ligação de uma
família originária de Estarreja, a uma cidade a mais de cem quilómetros, além
Douro, bem nos meandros do verdejante Minho?
Pelo
que sei, com facilidade imagino o que os velhos livros deixaram por contar!
Singulares detalhes, como um certo passeio a cavalo que, prazenteiros,
desfrutaram pelos campos de Beduído, dois grandes amigos, num dia primaveril de
1720. A conversa fluía no reviver nostálgico de aventuras passadas, em épocas
de bem menores responsabilidades. Não faltara sequer a clássica ida às nêsperas,
ou aos figos, tão características da irreverência juvenil. Atravessavam em
animado trote, a velha ponte sobre o Antuã, trepavam à Costeira, e lá no alto,
o mais novo, sonhava em descansar os seus dias no regalo da “melhor vista”
daquelas paragens. Chamava-se Agostinho[20],
e era filho do Capitão de Santiais e Ul, homem grave e abonado, que “rematava a renda da Comenda”[21]
de S. Tiago de Beduído, e outras, responsabilidade em que investia os seus
vários criados. Quem o acompanhava era o Aleixo[22],
um par de anos mais velho, segundo Conde de S. Tiago de Beduído, e titular da
Comenda que ligara os dois miúdos enquanto seus pais se reuniam, cuidando de
direitos e obrigações.
Subitamente
circunspecto, o primeiro quebrou a ligeireza daquele reencontro, falando de seus
temores:
-
Sabeis Aleixo, que meu pai está velho e não tardará a apresentar sua temente
alma a Deus[23].
Preocupa-me o destino de meus irmãos. Não tanto pela Maria, que está bem casada
com um rico proprietário, lá prás bandas de Arouca[24];
mas pela Antónia que ainda não casou, e pelo Bernardo que acabou faz pouco
tempo o bacharelato em Leis. Parece-me que ao Manuel assentaria bem o cargo do
pai, e isso seria conveniente, pois que nunca se dedicou aos estudos, e carrega
já consigo os encargos de uma família[25].
Peço-te conselho amigo, pois que és bem vivido e conhecedor das cousas do
mundo. Sou o mais velho; qual a melhor forma de orientar a vida e aconchegar os
meus?
Reflectiu
o Conde por algum tempo, reagindo de pronto encontrada que foi a solução:
-
Sábio amigo. A razão assiste as tuas sensatas palavras És homem de bons
valores, dominas bem as Leis e poderias ser peça válida ao lado de meu tio, no
Arcebispado de Braga. Falar-lhe-ei de ti em tempo conveniente, se tal te
aprouver. Também ele caminha para os oitenta anos de uma vida cheia, e que bom
seria, quando o Destino o chamasse, manter alguém de confiança naquela
hierarquia. Pensa nisso, meu velho!
Voltaram
a encontrar-se mais tarde, já com o aval do Arcebispo[26],
e Agostinho deu seguimento à Inquirição de Génere[27]
que o habilitaria ao lugar de Cónego. Então, deixou Estarreja e foi residir
para Braga, passando a ocupar o cargo de Desembargador da Relação Eclesiástica,
sendo apresentado em simultâneo, como Abade de Rio Caldo, na Serra do Gerês,
comenda da Ordem de Cristo pertencente à mitra bracarense. A breve trecho,
trocou aquela abadia, por um muito mais rentável e honroso canonicato na Sé
primaz, sendo logo nomeado Provisor e Vigário Geral, cargos que ocupou enquanto
viveu o seu protector[28].
Nas boas graças de D. Rodrigo, pediu-lhe ainda o favor de investir noutro
canonicato, seu irmão mais novo, Bernardo Marques do Couto[29],
garantindo-lhe desse modo, função e rendimento vitalícios.
Chorada
a morte do Arcebispo, Braga foi considerada “sede vacante”[30]
na década seguinte. Decidiu desde logo o Cabido, entregar a Agostinho Marques
do Couto o governo do Bispado, cargo em que se manteve até 1741[31].
Nesse ano, D. José de Bragança foi elevado a Primaz de Espanha, entrou em
conflito com a hierarquia instituída na Sé de Braga, e Agostinho, cansado, de
luto pela recente e inesperada morte de Bernardo[32],
não viu mais razões para continuar no cargo, assumindo de vez o seu regresso a
Estarreja. Viveu o resto dos seus dias – tal como tinha sonhado em jovem – na
“Quinta da Melhor Vista”, acompanhado pela mana Antónia, seu marido – o capitão
e advogado Victoriano Pereira da Cruz –, e os sobrinhos Manuel, Caetano,
Agostinho e Bernarda. Nas casas dos números 12 e 13 do Terreiro de Santo
António em Braga, cujo prazo Agostinho arrematara em 1729 ao Cabido, garantindo
as necessárias “pensões de galinhas”, continuou a viver o Salvador[33],
o outro sobrinho, filho do Manuel, a quem o tio se afeiçoara desde que o
pequeno fora para sua casa. Nele renunciou o prelado, o canonicato da Sé
Primaz. Testou[34]
em benefício da família de Antónia, e entregou-se ao Altíssimo em 1756, no
sossego de Beduído.
[1] Ibidem. “A Francisco Barbosa, então deputado (parece
ser erro, uma vez que no ano referido, o mesmo não exercia aquele lugar
parlamentar), se deve a concessão do
subsídio do Governo para o sustento da Casa da Regeneração de Braga desde 1887”.
[2] Diário do Minho, 21 de
Fevereiro de 2005, O fundador do Colégio
da Regeneração.
http://www.centrobraga.com
[3] Informações constantes
nas notas familiares redigidas por seu sobrinho António Fernando de Sequeira
Barbosa Sottomayor.
[4] Testamento de D. Rita de
Cassia Barbosa de Sottomayor, aberto em 11 de Março de 1899. “Peço porém à última (das irmãs) que ficar para dar ao Collegio da
Regeneração trezentos mil reis para o Collegio empregar essa quantia na alimentação
e vestuário de seis convertidas no espaço de oito anos”.
[5] Boletim Salesiano, Vol.
VI, Nº 1, Janeiro-Fevereiro de 1914. Na nota necrológica de Maria Henriqueta,
lê-se a dado passo o seguinte: “Apegando-se
à letra do Evangelho, D. Henriqueta Barbosa sabia que a caridade é virtude
principalíssima para entrar no Céu, e por isso nunca a sua mão se apresentou
fechada ao mísero e indigente. Era também zelosíssima e generosa Cooperadora
Salesiana (…)”.
[6] Echos do Minho, 4 de
Novembro de 1914. “As internadas do
Colégio de Regeneração, profundamente comovidas pelo falecimento da ilustre
tesoureira do mesmo Colégio – a ex.ma senhora D. Maria Henriqueta Barbosa
Sotto-Mayor(…)”.
[7] Echos do Minho, 1 de
Novembro de 1914. Na notícia do seu óbito diz-se que “(…) amparava a viúva e abandonada; os órfãos e os infelizes; ela
custeava do seu bolso muitas despesas para o estudo e ordenação de muitos
indivíduos que hoje, mercê da sua protecção são sacerdotes espalhados pela
diocese. Entre as diferentes gerações académicas dos antigos seminários, o seu
nome é venerado, como recordação da sua obra em favor de centenares de
estudantes pobres”.
[8] Vide nota 5 em Rostos da Fontinha ( I ). Antes de
ter ingressado na Magistratura ao ser nomeado para Ponta Delgada (1881),
concluíra Ciências Eclesiásticas no Seminário Arquiepiscopal de Braga (1866)
com ideia de tomar ordens. Sem vocação, formou-se depois em Direito pela
Universidade de Coimbra (1872), passando a exercer advocacia na comarca de
Aveiro, até 5 de Março de 1874, data em que prestou juramento e assumiu o cargo
de Promotor interino do Juízo Eclesiástico de Aveiro, cujo documento de
Provisão está na posse dos seus descendentes. Viveu em Aveiro esses nove anos,
deslocando-se amiúde a Estarreja, fosse a trabalho, ou em visita aos irmãos, na
Fontinha.
[9] Registos de casamentos
da freguesia de São Mamede, concelho de Lisboa, livro 14, fl. 117 verso. “Aos vinte e cinco dias do mez d’abril de
mil oitocentos setenta e sete, nesta egreja parochial de São Mamede, de Lisboa,
na minha presença compareceram os nubentes, digo, os excellentíssimos nubentes
Agostinho Barbosa de Souto Maior e Dona Belmira Graziella de Mattos Sequeira,
que sei serem os próprios, tendo sido despensados os proclamas por despacho com
data do dia seis do dito mez e anno, e sem impedimento algum canónico ou civil
para o casamento, elle de trinta e sete anos de edade, solteiro, delegado do
procurador régio nesta Comarca, natural e baptisado na freguesia de São Paio de
Parada, Diocese de Braga e morador na de São Julião desta capital, filho legítimo
dos excelentíssimos Pedro de Barbosa do Couto Cunha e Mello, natural da
freguesia de Beduído, Diocese do Porto e Dona Marianna Cândida Sá Souto Maior
de Barbosa, natural de Braga, e ella, de decenove annos de edade, solteira,
natural e baptisada na freguesia de São Pedro de Torres Vedras, deste patriarchado
e moradora nesta freguesia, filha legítima dos excelentíssimos Joaquim Germano
de Sequeira, natural da freguesia de Villa Franca de Xira, deste patriarchado e
de Dona Adelaide Margarida de Mattos Sequeira, natural da freguesia de Belém
desta capital = os quais nubentes se receberam por marido e mulher e os uni em
matrimónio procedendo em todo este acto conforme o rito da Santa Madre Egreja
Catholica Apostólica Romana. Foram testemunhas presentes que sei serem os
próprios os excelentíssimos Marquez de Penalva, casado, proprietário, morador
na freguesia de Santos e Dom João Zarco da Câmara, casado, engenheiro, morador
à Junqueira e Ignácio França (médico da família), casado, cirurgião do exército, morador nesta freguesia. (…)”
[10] Informações constantes
nas notas familiares redigidas por seu filho António Fernando de Sequeira
Barbosa Sottomayor.
[11] Diário da Manhã, Lisboa,
Quinta-Feira 10 de Maio de 1883. “Torres
Vedras. Terminaram no dia 18 do mês passado as audiências gerais desta comarca,
que tinham sido abertas no dia 10 de Março último. (…) Presidiu às audiências o
ex.mo sr. Dr. Joaquim Germano de Sequeira, juiz de direito desta comarca (…).
Representou o ministério público o ex.mo sr. Dr. Agostinho Barbosa Sottomayor,
(…) que possui uma robusta inteligência, dispõe de largo pecúlio de
conhecimentos jurídicos, compreende na sua verdadeira altura e com inteira
imparcialidade a missão que lhe incumbe, e sabe cumprir sem quebra da sua
dignidade os deveres do seu cargo (…)”
[12] BESSA, José Marcelino de
Almeida, Annexo ao Manual Parlamentar
para uso dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1905, fl. 269. Prestou juramento na Legislatura de 1884-1887, a 27 de
Dezembro de 1884, e na Legislatura de 1890-1892, a 3 de Maio de 1890. Foi
também Par electivo pelo Distrito de Horta em 30 de Abril de 1894, e
Vice-Presidente da Câmara dos Senhores Deputados em 1891 e 1892.
[13] “Joaquim Germano de Sequeira, Juiz de direito na 5ª Vara de
Lisboa presta o seu consentimento para o consórcio de sua filha Belmira
Grasiella de Mattos Sequeira com o Ex.mo snr. D.or Agostinho Barbosa de
Sottomayor, snr. Delegado do Procurador Régio na 6ª Vara de Lisboa. Lisboa 2 de
Abril de 1887. a) Joaquim Germano de Sequeira.”
[14] SOTTOMAYOR, A. de, Hurrah por Torres Vedras!, in
Lisboa-Torres Vedras, número único, publicado pela Typographia Torreense em
comemoração da entrada da primeira locomotiva na villa, 30 de dezembro de 1886.
[15] SOTTOMAYOR, Agostinho
de, O Assassínio do Engenheiro Abel Marty em Torres Vedras, in Galeria de
Criminosos Célebres em Portugal. História da Criminologia Contemporânea, Volume
II, Lisboa, Edição António Palhares, 1897, fls. 95-107. Neste artigo, Agostinho
Barbosa de Sottomayor iniciou a sua colaboração naquela notável publicação, de
que veio inclusive a ser director literário em 1900. Ali deu à pena textoscomo
“Urbino de Freitas”, “Os crimes do «Bigode»” ou “Um assalto ao México (Anna
Alvarez)”, entre muitos outros.
[16] Diário Illustrado,
Sábado, 13 de Maio de 1899. Num artigo intitulado “Dr. Agostinho Barbosa Sottomayor”, podem ler-se as datas das
respectivas investiduras: Sesimbra (Setembro de 1890), Póvoa de Varzim (2 de
Dezembro de 1892), Vieira do Minho (1896), Lisboa como Juiz Auxiliar de
Investigação Criminal (Fevereiro de 1898). Documentos na posse da família,
indicam as restantes datas: Promoção à 1ª Classe e tomada de posse na comarca
da Guarda, onde nunca exerceu por estar destacado em Lisboa como Juiz Auxiliar
de Investigação Criminal (21 de Dezembro de 1904), posse na 6ª Vara Cível de
Lisboa (10 de Janeiro de 1906), posse na 5ª Vara Cível de Lisboa (19 de
Dezembro de 1914), Aposentação (Despacho de 21 de Novembro de 1917, publicado
em Diário do Governo a 3 de Dezembro).
[17] Diário de Lisboa, 31 de
Dezembro de 1934. Num artigo evocativo do Juiz Francisco Maria da Veiga,
extrai-se que o “tempo do Juiz Veiga” ocorreu entre 1893 e 1907, anos em que,
como magistrado policial, esteve à frente do recém criado Juízo de Instrução
Criminal.
O
Século, 31 de Dezembro de 1934. A notícia do seu falecimento refere-o como
amigo íntimo de João Franco, homem de confiança do Rei D. Carlos, e “um dos mais fortes sustentáculos da
monarquia nos últimos anos desta”.
www.sis.pt/pt/historia/origens.php?print=sim Na história dos serviços de informação e
segurança de Portugal, pode ler-se que chefiou a Polícia Preventiva, que João
Franco criou, enquanto Ministro do Reino, para tomar conhecimento de todos os
factos relevantes para a ordem pública, e tomar providências especiais,
preventivas e repressivas, quanto aos crimes contra a segurança do Estado. Os
Republicanos sempre se lhe referiram como um “polícia secreta”, e preparada
para actividades de espionagem.
[18] Correio da Manhã, 11 de
Dezembro de 1917, Diário Nacional, 19 de Dezembro de 1917. Cartas abertas de
Agostinho Barbosa de Sottomayor, em protesto pela sua aposentação forçada.
[19] Notas de família
redigidas por seu cunhado, o jornalista e olissipógrafo Gustavo de Matos
Sequeira.
[20] SOTTOMAYOR, Agostinho
Barbosa de, SOTTOMAYOR, Francisco Barbosa de, op. cit. Baptizado em Beduído a 8
de Agosto de 1677, Agostinho Marques do Couto foi bacharel em Direito. Em 1736,
com sessenta anos, comprou a “Quinta da Melhor Vista” e outras, erigindo a
Capela de Nossa Senhora da Conceição, tudo reunindo em Vínculo. Faleceu em 1750
ou 1756, e era filho do Capitão Manuel do Couto e de sua mulher Maria Marques
do Couto, do lugar de Santiais.
[21] Habilitação para a Ordem
de Cristo de Agostinho Marques Pereira do Couto, Letra A, Maço 10, Diligência
6, 1758.
[22] SOUSA, D. António
Caetano de, História Genealógica da Casa Real
Portuguesa, Tomo X, Coimbra, Atlântida – Livraria Editora, 1953, fls.
352-353. Aleixo de Sousa da Silva e Meneses, nascido a 10 de Maio de 1675, foi
também sr. de Estarreja, Aposentador-Mor, Deputado à Junta dos Três Estados,
Alcaide-Mor de Alfaiates, Reguengo de Arronches e Ervededo.
[23] Livro de registo de
Óbitos da freguesia de S. Tiago de Beduído: “Em
20 de Abril de 1722 faleceu Manuel do Couto de Santiais, ab-intestato, tendo
recebido os sacramentos”.
[24] Maria Marques do Couto
foi baptizada em Beduído a 2 de Fevereiro de 1680, e casou na freguesia de
Rossas, concelho de Arouca, com Manuel Pinto Aranha, de quem teve geração.
[25] Manuel Marques do Couto
nasceu em Santiais, Beduído, em 3 de Janeiro de 1684. Sucedeu ao pai como
Capitão da Companhia de Santiais e Ul, tendo residido em Pardilhó. Casou a 18
de Abril de 1711 com Maria João, e “viveram
de sua fazenda”, deixando geração.
[26] SOTTOMAYOR, Agostinho Barbosa
de, SOTTOMAYOR, Francisco Barbosa de, op. cit. “A instâncias do Conde de S. Tiago, de quem era amigo, foi viver para
Braga, na companhia do irmão do Conde, D. Rodrigo de Moura Teles, então
Arcebispo Primaz”. Há aqui um erro, pois o irmão do Arcebispo foi, de
facto, o 3º Conde de Vale de Reis, Lourenço de Mendonça, sendo ambos cunhados
do 1º Conde de S. Tiago de Beduído, Lourenço de Sousa de Meneses, pai de
Aleixo, e que morreu em 1675, dois anos antes de Agostinho Marques do Couto
nascer.
[27] VASCONCELOS, Maria
Assunção J. de, op. cit., fl. 27. Fez Inquirição de Génere para cónego em 1721.
[28] SOUSA, D. António
Caetano de, op. cit., fls. 398-399. D. Rodrigo de Moura Teles (o autor
chama-lhe Ruy, o que é confusão), nasceu a 26 de Janeiro de 1644, foi nomeado
Arcebispo de Braga, Primaz de Espanha, confirmado pelo Papa Clemente XI, tendo
tomado posse da sua Igreja a 25 de Novembro de 1704. “Governou com grande zelo, justiça, e inteireza, sendo contínuo nas
visitas, fazendo muitas pessoalmente, e obras magníficas, com que engrandeceo
aquella Cidade”. Morreu a 4 de Setembro de 1728.
[29] Bernardo Marques do
Couto foi baptizado em Beduído a 11 de Fevereiro de 1689. FERREIRA, Monsenhor
José Augusto, Provedores da Irmandade da
Santa Casa da Misericórdia de Braga instituída pelo Arcebispo D. Diogo de Sousa
(1513?), Academia de Ciências de Lisboa, 1941. Neste catálogo surge a
referência a Bernardo como Provedor, entre 1735 e 1736, indicando-o igualmente
como Cónego da Sé Primaz.
[30] O Cardeal da Mota (D.
João da Mota e Silva) foi entretanto eleito Arcebispo de Braga, em 1732, sem
contudo chegar a obter a confirmação da Santa Sé.
[31] SOTTOMAYOR, Agostinho
Barbosa de, SOTTOMAYOR, Francisco Barbosa de, op. cit., “(…) cargo que ocupou por mais de dezassete anos (…)”. Este período
de tempo diz respeito ao seu cargo de Vigário-Geral do Arcebispado, que terá
começado a exercer por volta de 1723, e não ao tempo em que ali se manteve após
a morte de D. Rodrigo de Moura Teles.
[32] VASCONCELOS, Maria
Assunção J. de, op. cit. fl. 40. Na nota de rodapé nº 73 diz-se que faleceu na
freguesia da Cividade, a 27 de Dezembro de 1738.
[33] SOTTOMAYOR, Agostinho
Barbosa de, SOTTOMAYOR, Francisco Barbosa de, op. cit. “Salvador Marques do Couto, o qual foi de tenra idade viver com seu tio
Agostinho Marques do Couto que nele renunciou em 27 de Março de 1736 ao
canonicato que tinha na Sé Primaz, onde foi sempre muito respeitado. Jaz na Sé
de Braga”. Foi o único filho varão do Capitão Manuel Marques do Couto, e
fez Inquirição de Génere para cónego em 26 de Março de 1736.
[34] VASCONCELOS, Maria
Assunção J. de, op. cit. fl. 40. Agostinho Marques do Couto fez testamento em
10 de Dezembro de 1738. Segundo nota de rodapé nº 72, a existência desse
documento é citada no emprazamento de 1800 relativo à Casa da Rua de Santo
António das Travessas.
Solamente un comentario. En el texto se recoge la muerte de Agostinho Marques do Couto "...e entregou-se ao Altíssimo em 1756, no sossego de Beduído.", cuando la fecha correcta es el 9 de agosto de 1754.
ResponderEliminarUma pequena rectificação:
ResponderEliminar"[28] SOUSA, D. António Caetano de, op. cit., fls. 398-399. D. Rodrigo de Moura Teles (o autor chama-lhe Ruy, o que é confusão)"
Não é confusão alguma. Rodrigo e Ruy eram usados indiferentemente, referindo-se ao mesmo nome próprio. Há inúmeros casos. Um deles com um dos filhos do próprio D. Aleixo, que ficou com o mesmo nome do tio Arcebispo.
Cumprimentos