21.8.15

O Cónego Barbosa e o dogma da Imaculada Conceição

Caía a tarde no velho burgo dos arcebispos, em domingo de Pentecostes. Por entre uns poucos atrasados que à última se introduziam na Sé pelos santos óleos da Confirmação, um vulto de baixa envergadura trilhava o caminho inverso, descendo ligeiro os polidos degraus de granito milenar. Trajava batina, cujo negro destacava a rendada sobrepeliz, e fazia-se cobrir por uma murça cinza de que ressaltava o cordão violáceo. Tratava-se por certo de um cónego… o que a denunciada coroa, casualmente a descoberto na rápida troca do solidéu pelo barrete, também não desmentia. Sexagenário debutante – nascera em Estarreja a 4 de Fevereiro de 1795 –, apressava-se no regresso a casa. Antevia longo serão, revendo a papelada de um processo que o trazia preocupado, e ao qual, na manhã seguinte, daria sentença no desembargo da Relação Pontifícia.
Não lhe adivinhava tal cuidado a velhusca que de improviso o abordou. Encostava-se ao varandim balaustrado da galilé, onde por momentos repousava as agruras da vida, e as pernas cansadas que metera ao caminho! Soerguendo timidamente a grosseira bengala, captou-lhe a atenção com um rouco vozear cuja firmeza parecia desacreditar a enrugada e vetusta aparência:
- Valei-me Senhor Cónego! Pela alminha de a quem mais quer!
Impacientou-se o beneficiado, cujo irascível feitio não admitia contrariedades. Muito menos quando outro dever o chamava, e bom sucesso almejara na discrição com que se ausentara, antes do cerimonial levar termo. Assim mesmo, retorquiu-lhe com bonomia:
- Dize-me, anciã de Deus. Como te posso ajudar?
Ali mesmo pretendia confessar-se, evitando a espera a que se obrigava nos confessionários, pela muita afluência de fiéis. Só desse modo, poderia ainda chegar a tempo de receber o crisma que o Cardeal-Arcebispo se ultimava a administrar!
Espantou-se aquele com a finura da mulher. No entanto, e para bem do tempo que levava contado, não lhe podia acudir. Sem mais delongas, justificou-se com subtileza:
- Bem o gostaria, irmã! Contudo não me é permitido fazê-lo, pois aqui onde me vê, ainda nem sequer disse missa!
Abalada em parte pelo que acabava de ouvir, e noutro tanto pela imprevista recusa que lhe complicava os planos, desacostou-se a septuagenária, retomando a direcção do interior do templo. O cónego ainda a seguia com o olhar, quando ela se virou, despedindo-se piedosamente:
- Coitadinho… até tão tarde em jejum![1]
Galilé da Sé de Braga
Francisco Barbosa[2] saudou-a. Cruzou o gradeamento e mal pisou a calçada, virou à esquerda, tomando a direcção de São Paulo. Um franco sorriso acentuava-lhe o arredondado da face, enquanto recordava o jocoso mal-entendido. Obviamente a mensagem passara ao largo da velha senhora, que nunca supôs pedir a confissão a um minorista! Porque nesse tempo, podia dignar-se um cónego apenas com ordens menores. E Francisco mal tivera tempo de se preparar, com vista à sucessão do tio Bernardo[3] no canonicato da Sé; acabava de deixar Coimbra, formado em Cânones, quando aquele expirou aos oito dias dos idos de Abril de 1820. Numa semana tomou posse do benefício. Depois a carreira na Relação da diocese, afastara-o definitivamente do presbiterado, a que já não contava aceder. Muito menos quando agora se falava, em crescendo, no seu nome para a presidência do Tribunal Pontifício de Braga[4].
Nisto conjecturava, alheando-se do trajecto que de hábito o levava, em pouco mais de dez minutos, ao Terreiro de Santo António onde, na “Casa Grande”[5], vivia acompanhado pelas sobrinhas Rita de Cassia e Maria Henriqueta[6]. Já se propunha deixar a rua de Santa Maria e atravessar o largo de São Paulo, evitando subir as intrincadas vielas da antiga judiaria – de que a sua casa fora em tempos, respeitável sinagoga[7] –, quando uma voz bem conhecida o arrancou do seu lucubrar:
– Pois se não é Vossa Senhoria, o meu bom amigo Cónego Barbosa? – introduziu aquele que se encaminhava a São João, onde morava.
Era o bom Padre Martinho! E se o génio difícil de Francisco, naquela esquina se não voltou a manifestar face a novo empecilho da sua vontade, à muita amizade que devotava ao recém-chegado naturalmente se devia. Logo se abraçaram, confortando-se mutuamente as espáduas. Um deles bem entroncado, pleno na vitalidade dos seus quarenta e três anos[8]; o outro, já o sabemos baixo e sessentão. Gémeos no feitio, cobriam virtude e bondade com capa austera. Do primeiro dizia quem o conhecia, ser em extremo cativante no trato, tornando impossível não lhe dedicar grande estima[9]; do segundo sobrou fama de excelente pessoa, muito considerada em Braga[10].
Aos dois aproximara certa casualidade: vivendo na mesma rua, Francisco vira crescer Martinho desde criança. Acompanhara a sua entrada no Seminário a cursar Filosofia, e conhecera-lhe o ensejo de se tornar sacerdote, no borralho gerado pelo infeliz decreto do “Mata-Frades”[11]. Enfim ordenado já passava dos trinta, bastas vezes se lhe cruzava ao caminho, entrando ou saindo da Misericórdia, onde no coro, habituava os fiéis a um ofício divino entoado como poucos. Amiúde o encontrava também o cónego, na rotina diária das idas e vindas do paço arquiepiscopal, desde que Martinho da Silva se mudara para a rua do Souto. Por mais breve que fosse o colóquio, sempre fomentava a amizade e respeito mútuo.
No entanto, e qual raridade no costume, desta feita não se viam há semanas! Mais precisamente desde a manhã da terça-feira de Pascoela, em que coincidiram no terreiro da Sé, à saída de um solene Te-Deum. Encerravam-se as celebrações oficiais que anunciavam a definição dogmática da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria[12]. No largo apinhava-se a gente, ao som da banda marcial chamada à guarda de honra. Foi o momento escolhido pelo Padre Martinho, para num desabafo se mostrar insatisfeito com a menor dimensão popular imprimida ao evento. O dogma de Nossa Senhora, a padroeira de Portugal, merecia o carinho e o voto do povo. Não se devia cingir à seriedade do aparato hierárquico!
Padre Martinho António Pereira da Silva
(1812-1875)
Fotografia: Bruno Azevedo
Cónego Francisco Barbosa do Couto Cunha e Melo
(1795-1871)
Fotografia: Bruno Azevedo
Tão notável matéria, de todo era estranha ao sacerdote. Pusera-se num virote, desde que a 8 de Dezembro de 1854, na Basílica de São Pedro em Roma, Pio IX postulara que “a Beatíssima Virgem Maria no primeiro instante da sua Conceição foi, por uma graça e privilégio singular de Deus Todo-Poderoso, e em vista dos merecimentos de Jesus Cristo Salvador do género humano, preservada e eximida de toda a mácula da culpa original”. No espaço de um mês - ainda a buliçosa política do reino se debatia com a questão, atrasando o necessário beneplácito régio ao decreto papal[13] -, já a Igreja dos Remédios, onde Martinho da Silva exercia o sacerdócio, se engalanava em celebração do facto. No dia 7 de Janeiro de 1855, sob o seu impulso, ali se realizaram as primeiras solenidades que Portugal conheceu em honra do Dogma da Imaculada Conceição[14]!
Apesar dessas festas e daquelas celebradas na Páscoa, neste fim de tarde de Pentecostes, quando a caminho de casa prosava com o Cónego Barbosa, Martinho persistia no sentir de que ainda faltava um acto mais abrangente e maior. Algo como…
– Uma procissão, amigo Francisco. Venho agora do Colégio[15] onde apresentei a ideia à Superiora das Ursulinas, a qual muito alegremente se lhe manifestou favorável. Lá para fins de Agosto, sairá a imagem de Nossa Senhora por entre o povo de Braga que nas ruas a quiser honrar!
– Pois queira o amigo Martinho contar comigo, se acaso lhe convier. Bem conhece o quanto sou devoto à Senhora. E mesmo que o não fosse pelo amor do coração, sê-lo-ia pela obrigação de a servir por Cavaleiro[16]. Haverá de me falar sobre esses planos… mas hoje não, meu caro padre… que me apresso em trabalhar até tarde!
Insígnia da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa
Fotografia: Rodrigo Viana Machado
Logo se despediram, cada um de regresso à sua rotina, até que a vida ou a saudade os voltasse a juntar.
Não se guardou notícia de que a oferecida ajuda tivesse efeito. O que os registos todavia garantem, é que o Padre Martinho levou adiante o seu intento. De facto, a 2 de Setembro desse ano de 1855, uma procissão absolutamente magnífica em honra de Nossa Senhora da Torre percorreu as ruas da cidade arcebispal, terminando em apoteose na Igreja do Colégio, ao Largo de São Paulo. Terminavam desse modo, três dias de uma festa que Martinho da Silva idealizara e conseguira levar a cabo[17].
E não se duvide que pela devoção ou por morarem a dois passos no vizinho terreiro de Santo António, ali estiveram o Cónego Barbosa e sobrinhas. Talvez até o irmão Pedro – igualmente Cavaleiro da Conceição de Vila Viçosa – por lá também fosse visto com a restante família, viajados a propósito desde São Paio de Parada de Tibães, freguesia próxima.
Largo de São Paulo.
À esquerda a igreja do Colégio (S. Paulo); à direita a capela de Nossa Senhora da Torre
Tão grande sucesso motivou o padre mariano à reactivação de outra procissão que Braga conhecera desde o grande terramoto de há cem anos, e da qual andava esquecida. Agradecia a cidade à Virgem, nada ter sofrido quando em Lisboa se dera a fatídica calamidade. Retomada a tradição, todos os sábados do ano Martinho da Silva presidia ao cortejo popular que circundava as muralhas do burgo velho, rezando o terço e cantando em honra de Maria[18]. Segundo escritos posteriores saídos da pena de um Monsenhor dedicado à historiografia, ter-lhe-á censurado esta actividade um certo “Cónego muito ilustre”. Não lhe assentava enquanto doutor e conceituado professor seminarista, o andar assim de mistura com o povo anónimo.
- Meu caro Cónego… – terá respondido. – Na igreja, desde a corda do sino até ao cabo da vassoura, tudo é serviço de Deus![19]
Aquele beneficiado bem podia ser Francisco Barbosa. Já o sabemos excelente pessoa e muito conceituado em Braga, apesar do seu “génio extraordinariamente violento”[20]. Estima-se igualmente que a sua elevada posição no arcebispado, aliada aos pergaminhos dos seus maiores, lhe favorecessem alguma presunção.
Talvez não tanta quanto a de dona Arcângela Benedita Barbosa, sua prima direita: “uma preciosa ridícula (…) com presunções de nobreza tão arreigadas, que não se dignava visitar a maior parte das famílias da vila” de Ovar, onde vivia. Assim a descreviam os conterrâneos, e boa poesia fomentou em Júlio Dinis, ao construir a morgada Doroteia de um dos seus mais notáveis romances[21].
Ao lado materno de Francisco correspondia a prosápia; do paterno adjectivava-se a árvore por “distinta e abastada, posto que não fidalga”. A diferença trouxera melindres ao casamento dos pais que não vira aprovação dos parentes de D. Maria Clara Benedita Barbosa da Cunha e Melo[22]. Não obstante Agostinho Marques do Couto[23] e Manuel Marques Fontinha[24], pai e avô do cónego, terem-se formado em Coimbra, a origem conhecida da estirpe remontava a uns simples lavradores do lugar de Santiais, freguesia de Beduído (Estarreja): Domingos António e Maria Marques. A herança de uma tia levara em 1687 os filhos do casal – Domingos, Manuel, Luís e Maria – à Fontinha do Paço, um outro lugar da freguesia, a tomar posse de uma casa de lagar[25]. Vivendo do que plantavam, colhiam e transformavam, ali residiram os trisavôs paternos do Cónego Barbosa – Manuel Marques Fontinha e Marta João[26] – assim como os bisavôs Luís Marques Fontinha e Maria da Silva[27]. Não era portanto o Cónego Barbosa, um fidalgo dos quatro costados; sobrar-lhe-ia contudo, a vontade de o parecer. Nomeadamente numa sociedade tão arcaizante como o seria a bracarense de oitocentos! Nesse particular não comungava da simplicidade genuína do amigo Martinho da Silva, nascido em berço de modesta condição[28].
Deste também se conta que alguns anos depois dos acontecimentos relatados, se encontrou ocioso certa tarde no Bom-Jesus do Monte., de visita ao capelão-mor do santuário, padre Manuel Antunes dos Reis. Desafiaram-se a subir dali ao monte Sameiro, num agradável passeio de meia hora. Foi quando o Padre Martinho, relembrando outros exemplos similares que surgiam pelo mundo, concebeu a ideia de um monumento celebrando a Imaculada Conceição de Maria. Precisamente ali, no alto da colina do Sameiro, vigilando a sede Primaz de todas as Espanhas[29].

Tecto do salão da "Casa Grande" da Rua de Santo António das Travessas (Braga)
Fotografia: António Fernando de Sequeira Sottomayor
Homem empreendedor, não lhe esmoreceu o afã a magnitude da tarefa. Havia que conciliar vontades e cabedais, já que o sonho nascera grande e monumentoso. E nesse contexto acabou por reunir, depois de oito longos meses de demandas, uns poucos fiéis de monta firmemente dispostos na ajuda.
Francisco Barbosa estava, naturalmente, entre eles. A sua devoção mariana e a amizade que o ligava ao padre dos Remédios, a isso faziam esperar. Num qualquer ponto da cidade, talvez até no salão da “Casa Grande” – miudeza que a história não registou –, constituiu-se a 11 de Maio de 1862 aquela que seria a primeira Comissão organizadora do Monumento da Imaculada Virgem do Sameiro. Martinho da Silva encerrava a lista dos seus elementos, como segundo secretário. Já o Cónego Barbosa encabeçava o rol, proposto como presidente[30].
Depois veio a aprovação e autorização do Arcebispo Primaz D. José Joaquim de Azevedo e Moura (20 de Maio). Acto consequente, escreveu a Comissão uma carta a diversos bracarenses, em busca do necessário apoio financeiro para as projectadas obras. Estendeu-se o pedido a outras partes de Entre-Douro-e-Minho, e muitas corresponderam a título individual. Aquilatou-se do melhor local e a 14 de Junho de 1863 – precisamente duzentos e vinte e seis anos depois de Braga ter jurado solenemente, para sempre defender a Imaculada Conceição de Maria[31] –, deu-se início à cerimónia de lançamento da primeira pedra. Tinha aquela uma cruz gravada e foi colocada frente a um modesto oratório, emoldurada pela bandeira real entre muitas outras, e toda a beleza natural do monte Sameiro. Entoaram-se salmos e antífonas e rematou-se o acto inaugural com uma missa no Santuário do Bom-Jesus[32].
A Comissão, briosa, contratou o mestre canteiro do Porto, Emídio Amatucci, reconhecido na época pelo seu trabalho de estatuária funerária, no qual se destacava impondo estilo, tanto no Porto como em Braga[33]. Haveria de esculpir num só bloco de mármore vindo propositadamente de Roma, uma imagem de Nossa Senhora da Conceição com três metros de altura – ou 14 palmos como constava da encomenda! Laborioso mister que consumiu cinco intermináveis anos! Não o trabalho de artista, pois esse aprontou-se nalguns meses. O sarilho foi encontrar a pedra, cortá-la e fazê-la chegar de barco até ao Porto. Já desesperava a Comissão de Francisco Barbosa, e desanimava o amigo Martinho!                                     
Monumento à Imaculada Conceição da Virgem,
no monte Sameiro (1869-1883)
Porque entretanto se lançara, de igual forma, mãos à obra no terreno, preparando o majestoso pedestal que haveria de erguer a estátua a mais de dez metros de altura. E também nesse particular, o Diabo parecia atentar a nobre causa! Esgotavam-se as dádivas em muros e fundações mal calculadas, e pagava-se regiamente a trabalhadores queixosos das condições adversas do espaço envolvente, e da longa distância que diariamente lhes tocava percorrer. Enfim removidos todos os escolhos, a 12 de Agosto de 1869 reuniram-se estátua e pedestal, entre muito povo e reverberantes morteiradas que ecoaram até à cidade[34].
As quatro faces do pedestal, justificavam o monumento à posteridade[35]:
Na manhã da festa do Imaculado Coração de Maria (29 de Agosto), celebrou-se a sua bênção solene, ministrada pelo Arcebispo Primaz. Acompanharam-no alguns cónegos, muitos sacerdotes, todos os membros da primeira Comissão, meia cidade de Braga e arredores. Martinho da Silva exultava, enquanto conduzia as vozes pelas estrofes do Hino da Imaculada que ele mesmo escrevera, e Joaquim José Rodrigues da Silva musicara: “Do Sameiro nas belas alturas / Majestoso elevado padrão / Anuncia às idades futuras / De Maria a feliz Conceição. / Salve Monte mil vezes famoso / Entre montes do bom Portugal! / Em teu cimo já brilha vistoso / Da ventura e da paz o sinal.”[36]
Terminou a cerimónia numa genuína apoteose de fé; um raro telegrama de Pio IX, abençoava a cidade de Braga e toda a Nação Portuguesa, “com efusão do seu coração”! Cumprira o seu sonho o Padre Martinho, e o Cónego Barbosa a sua missão.
Quiseram por isso homenageá-los, registando-lhes a efígie a óleo, num tempo em que o cliché ainda não ganhara pernas. Singelo o primeiro na sua modéstia, carregado o outro de pompa, não destoavam de como se conheciam, e aos olhos mundanos se davam.             
Martinho da Silva traja de sacerdote… e pouco mais há a dizer, numa tela onde predomina a discrição entre a negrura das vestes e a sépia do fundo. Pelo contrário, Francisco Barbosa está de cátedra, respeitável em todos os detalhes do traje de cónego que enverga, e do qual sobressai o púrpura eclesiástico. Acumula solidéu e barrete negros e a coberta da mesa onde se apoia, reforça o tom da dignidade. Não faltam saber e leis nos livros que o acompanham, e num dos cantos o brasão de família, pontuando a legenda que “da lei da morte o libertará”:
Francisco Barbosa da Cunha e Mello – B.el formado em Cânones, Cónego da Sé Primaz, Presidente da Comissão organisadora do Monumento da Immaculada Virgem do Sameiro.
Constituída que foi uma segunda Comissão em 1883, logo se acrescentou na legenda a ressalva: (…) Presidente da 1ª Comissão (…)!
Pedra de armas que existia na fachada da Casa da Fontinha, em Estarreja.
Fotografia: António Pedro de Sottomayor
Reproduz o brasão quase na íntegra, a pedra de armas que existia na frontaria da Casa da Fontinha, em Estarreja, pertença dos pais, onde o cónego e restantes irmãos nasceram e cresceram. A única diferença reside no III quartel, onde se representam neste apenas os CUNHA, e naquele os do mesmo apelido, mas do ramo de Tábua[37].
O cónego era naturalmente cioso da sua ascendência. Quanto mais não fosse porque se espelhava no romantismo da época. Evocando a varonia materna, brasonava-se primeiramente de BARBOSA[38], uma das mais antigas linhagens portuguesas, da região duriense, onde a Honra de que tomaram apelido se fundara na primeira metade do século XII com o terra-tenente de Penafiel D. Mem Moniz, irmão do célebre aio do rei Afonso[39]. Casada a filha com D. Sancho Nunes, da casa condal galega de Celanova (Ourense), transmitiu-se o gentilício às suas gerações, de que muitas se perdeu notícia na bruma dos tempos[40].
Não foi o caso de um certo Francisco Barbosa, fidalgo da Casa Real que em 1578 pelejou ao lado de D. Sebastião na dramática derrocada de Alcácer-Quibir. Acabou cativo, sendo mais tarde resgatado de modo a poder regressar ao solo pátrio, onde por mercê recebeu a escrivania das Cisas do concelho de Paiva. Desde Abril de 1551 que levava emprazada a Quinta do Barral, em Santa Maria de Sardoura (Castelo de Paiva), com foro de 400 reais e duas galinhas! Pai e avô de outros Franciscos que ali viveram[41], acabaram os sucessores por casar entre Estarreja e Ovar, graças à escrivania dos Órfãos da primeira, e ao cargo de capitão desta última vila, de que ao cabo de quatro gerações, um tio do Cónego Barbosa fora o último titular.
Antigo postal, onde figura a casa dos Barbosa da Cunha, capitães de Ovar, destruída por um incêndio em 1950.
Fotografia incluída no livro "Júlio Dinis. Um diário em Ovar(1863-1866), de Maria Adelaide G. Arala Chaves
Pedra de armas que existia na frontaria da casa: um partido de BARBOSA e CUNHA (de Tábua).
Fotografia: António Fernando de Sequeira Sottomayor
Na povoação de Salreu, a Quinta do Mato tornou-se o elo de ligação desta família à região de Estarreja. Primeiro com D. Clara da Cunha de Azevedo[42], casada com Francisco Barbosa Reimão, neto do de Alcácer-Quibir; depois com D. Maria Clara da Cunha de Azevedo[43], sobrinha-neta da anterior, casada com seu primo Francisco Barbosa da Cunha, o capitão de Ovar neto dos anteriores. Era a razão por que figuravam as cunhas no brasão do Cónego. E consoante se interpretava a linhagem com ligeireza ou a fio de navalha, se representavam plenas ou com a bordadura dos de Tábua, já que os genealogistas remontavam a ascendência do fundador da Quinta do Mato, a D. Mecia da Cunha, senhora a quem a justiça do século XVI retirara a posse do senhorio de Tábua.
Pedra de armas que ilustrava a desaparecida casa da Quinta do Mato: pleno de CUNHA.
Fotografia: António Pedro de Sottomayor
Se do castelo sobre as águas[44] usavam os Marques do Couto desde que o primeiro se engrandecera no arcebispado de Braga, falta esclarecer os MELO[45], e a razão pela qual o Cónego Barbosa foi o morgado da Torre de Sampaio (Mouçós, Vila Real), até o rei D. Luís extinguir aquela forma de instituição. Para isso urge regressar à Quinta do Mato, nomeadamente ao irmão da primeira Clara acima mencionada. Chamava-se António da Cunha de Azevedo, e instituiu o morgado daquela quinta a 12 de Dezembro de 1649, talvez instigado pela esposa, D. Cecília Pereira de Melo, herdeira do morgado da Torre de Sampaio, com quem casara poucos anos antes. Único varão, o filho Jerónimo foi casar com uma prima a Vilar de Maçada, freguesia de Vila Real até às reformas liberais. Viveram primeiro em Salreu, depois em Vila Real, onde Jerónimo Pereira de Melo e Castro foi Correio-Mor, cargo que passou ao filho José e ao neto António[46].                  
Capela do morgadio da Torre de Sampaio, em Mouçós (Vila Real).
Fotografia: António Pedro de Sottomayor
Pedra de armas da capela, apresentando um escudo esquartelado de MELO, TEIXEIRA, CUNHA e CHAVES. Timbre de MELO.
Fotografia: António Pedro de Sottomayor
Em 1822 D. Ana Teixeira de Melo e Castro, bisneta de Jerónimo e terceira prima de D. Maria Clara Benedita – a mãe do Cónego Barbosa –, vivia só, estava velha, e era a última da sua linha. José Manuel Barbosa da Cunha e Melo, o último dos capitães de Ovar e tio do Cónego, mandou o seu primogénito Francisco, de vinte e dois anos, para Vila Real, acompanhar os últimos anos daquela parenta. Partiu ele e a irmã, Arcângela Benedita, a tal cuja sobranceria calhou de inspiração ao romancista Júlio Dinis. Na capital transmontana, o jovem que não era “malhado” e tivera educação de quartel, rapidamente se guindou a Coronel das Milícias da vila, combatendo na linha por despacho de D. Miguel. Nesse período conturbado, morreu a morgada D. Ana deixando-lhe, como previsto, as quintas do Mato e da Torre de Sampaio em herança.
Houve mal-estar na Casa da Fontinha, em Estarreja. Maria Clara Benedita reagiu, impondo um pleito judicial ao sobrinho que durou mais de um ano. Por fim em 1832, a sentença ditava pertencer-lhe o morgado de Vila Real, por ser de instituição transversal e não haver direito de representação; apenas de proximidade de parentesco. Ao sobrinho caberia o morgado do Mato, em Salreu, por ter sido instituído por um ascendente e Francisco representar a sua linha desde a morte do pai, ocorrida em 1826.
Quando a mãe morreu a 1 de Novembro de 1850, o Cónego era então o filho mais velho, uma vez que Manuel Bernardo sucumbira durante as acções do cerco do Porto, em 1832. Coube-lhe por isso suceder como morgado da Torre de Sampaio, título que deteve até à entrada em vigor da lei de extinção dos morgadios, em 19 de Maio de 1863[47], andando então em bolandas à procura de apoios para a construção do monumento à Virgem.
Aqueles retratos de Francisco e Martinho haveriam de chegar aos nossos dias, entre Papas, Bispos, Padres e outros benfeitores, na sala da Mesa da Confraria da Imaculada Conceição do Monte Sameiro, cujos primeiros estatutos se redigiram a 8 de Agosto de 1877. Já nenhum dos amigos viu chegar este dia, acabando-se o mais velho com setenta e seis anos, a 12 de Maio de 1871, e o mais novo antes dos sessenta e três, em 8 de Abril de 1875[48].
Antes porém, esteve o padre com o cónego, velando-lhe o final. Para o distrair falou-lhe da viagem que recentemente fizera a Roma, por ocasião do I Concílio do Vaticano, e os planos em que empreendia desde então. Embora debilitado, Francisco Barbosa ainda retorquiu surpreendido:
– Meu bom amigo… Mas a sua fé não descansa? Ainda agora erguemos um notável tributo ao dogma de Maria, e já pensa em celebrar a infalibilidade papal[49] que o decretou, com uma capela no mesmo local?
E de facto, assim foi., embora Francisco Barbosa já não assistisse. Colmatou a sua ausência à cabeça da Comissão o rico Barão da Gramosa[50], e a 29 de Agosto de 1873, durante a habitual romaria ao Sameiro, foi lançada a primeira pedra da ermida que estaria pronta e abençoada sete anos adiante, depois de muita indecisão e maior retorica[51]. Faltava a mão firme do promotor, e já se zangava o comadrio!
Porque Martinho da Silva só viveu a graça de ver as obras começadas. Nem acordou na bonançosa manhã de 10 de Janeiro de 1883, constatando a súbita ruina do padrão que tudo motivara, logo reconstruído em menos de um triénio[52]. Ou sequer assistiu à ampliação do templo para sua “maior majestade e distinção”, que se arrastou cinco décadas entre 1890 e 1941, e que hoje pontua a colina do Sameiro, a par do Bom-Jesus de Braga. Não soube também que nos cem anos da sua existência se viu o santuário elevado à qualidade principal de “Basílica”[53].
Basílica de Nossa Senhora do Sameiro.
Fotografia: Bruno Azevedo
Uma confraria, um centro apostólico, dois Jubileus (1904 e 1954), inúmeras peregrinações e congressos, tornaram o Sameiro no segundo santuário mariano de Portugal, demandado anualmente por milhares de peregrinos. Atesta-lhe o valor, a visita papal de João Paulo II em Maio de 1982. Afinal “peregrinar é ir a Fátima ou ao Sameiro”[54]!
No presente ano de 2013, comemoram-se os cento e cinquenta anos do lançamento da sua pedra angular. Nessa cerimónia de antanho tão primordial, louvara o Deão da Sé de Braga os membros da Comissão fundadora, “pela acertada escolha dum local que parece fadado pela natureza, para anunciar às gentes e aos vindouros um facto, cuja memória deve ser perene e imorredoura”. Um deles era filho de Estarreja. Celebre-se igualmente o sucesso!


Nota de agradecimento: Este artigo contou com a disponibilidade do actual reitor do Sameiro, Padre Joaquim Morais da Costa, o qual amavelmente autorizou que se fotografassem os quadros de Martinho da Silva e Francisco Barbosa, e nos obsequiou com a última edição da “História do Sameiro”, da autoria do Padre Fernando Leite. O voto é extensivo ao director desta publicação Dr. Delfim Bismarck, e ao fotógrafo da Câmara Municipal de Estarreja Bruno Azevedo que para o efeito ali se deslocaram propositadamente.

*Este artigo foi publicado em "Terras de Antuã. Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja", Nº 7 - Ano 7 - 2013  





[1] O anedótico episódio foi recolhido na cidade de Braga, em Junho de 1957, por António Fernando de Sequeira Barbosa Sottomayor, sobrinho-neto do cónego Francisco Barbosa. Contou-lho então o cónego Manuel de Aguiar Barreiros que sempre ali viveu e fora amigo da família.
[2] Francisco Barbosa do Couto Cunha e Melo, como foi baptizado em Beduído (Estarreja), ou Francisco Barbosa Marques do Couto, como melhor se conhecia em Braga, em virtude de ser então o titular da família na Sé Primaz, centenária representação que se mantinha desde a investidura no canonicato, em 1721, do tio-bisavô Agostinho Marques do Couto, de Beduído. Reconto e detalhes da presença em Braga, dos Marques do Couto em, Serpa Brandão, F. (2007). Uma Família de Estarreja. Notas genealógicas sobre o ramo materno da família de D. Frei Caetano Brandão, Bispo do Pará e Arcebispo Primaz de Braga. (C. M. Estarreja, Ed.) Terras de Antuã. Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja, 1-2007, pp. 150-157; e Sottomayor, A. P. (2007). Divagações a propósito de um velho retrato. Rostos da Fontinha. Ibidem, pp. 48-53.
[3] Licenciado em Direito, Bernardo José Marques do Couto foi cónego da Sé de Braga, pelo menos desde 1793 até 8 de Abril de 1820, data do seu óbito. Era filho do licenciado Manuel Marques Fontinha, de Beduído, e de sua mulher D. Maria Marques do Couto, de Pardilhó (Estarreja), freguesia onde terá nascido a 16 de Novembro de 1746, na casa do lugar do Salgueiro, hoje desaparecida. Padrinho de Francisco Barbosa, avizinhando-se a morte, nele renunciou o canonicato de que era beneficiário.
[4] No jazigo de família do cemitério bracarense de Monte d’Arcos, para onde foram trasladadas as suas ossadas a demanda do sobrinho homónimo, autarca de referência em Estarreja, pode ler-se que faleceu a 12 de Maio de 1871, sendo Presidente do Supremo Tribunal Pontifício da Diocese de Braga.
[5] Vasconcelos, M. A. (1993). A Casa Grande da Rua de S.to António das Travessas. (A. D. Braga, Ed.) Forum, 12/13 (1992-93), pp. 17-42. Referenciado documentalmente desde o século XIV, o imóvel esteve na posse da família desde que foi arrematado, em 1729, pelo cónego Agostinho Marques do Couto, até 1941, ano em que foi vendido ao Estado Português, por D. Maria Emília de Barbosa Falcão de Azevedo e Bourbon, natural de Estarreja, sobrinha-neta do cónego Francisco Barbosa.
[6] (Sottomayor, 2007), pp. 38-45. Respectivamente a filha mais velha e a mais nova de seu irmão Pedro Barbosa do Couto Cunha e Melo, natural de Beduído (Estarreja), o qual vivia então nos arredores de Braga, na sua Quinta do Lugar de São Paio de Parada de Tibães, casado com D. Mariana Cândida de Sá Sottomayor.
[7] (Vasconcelos, 1993), pp. 18, 24. Segundo a autora, foi nesta casa que entre 1466 e 1467, a comunidade judaica instalou a Sinagoga, provavelmente por se tratar do melhor edifício existente naquela que então se conhecia por Rua da Judiaria Nova. Ali funcionou até à expulsão decretada por D. Manuel, em 1496.
[8] Leite, P. F. (2004). História do Sameiro. Braga, Portugal: Confraria de Nossa Senhora do Sameiro, pp. 32. O padre Martinho António Pereira da Silva nasceu a 8 de Outubro de 1812, na rua de Santo António, da freguesia de Santiago da Cividade.
[9] (Leite, 2004), pp. 34-35. Opinião do Padre Luís Gomes, seu amigo sincero e colaborador.
[10] (Sottomayor, 2007), pp. 40. Opinião registada pelo sobrinho-neto António Fernando de Sequeira Barbosa Sottomayor, com base em relatos familiares.
[11] Alcunha porque se conhecia o ministro Joaquim António de Aguiar, responsável pelo texto do Decreto de Extinção das Ordens Religiosas em Portugal, publicado a 30 de Maio de 1834.
[12] Pimentel, A. (s./d.). História do Culto de Nossa Senhora em Portugal. (Guimarães, Libânio & Cª, Ed.) Lisboa, Portugal: Livraria Editora, pp. 347. Em Braga as celebrações oficiais começaram no domingo de Páscoa dia 9 de Abril de 1855, com a publicação e leitura na Sé da bula papal “Inefflabilis Deus”, contendo a definição dogmática da Imaculada Conceição. Houve missa, repicaram os sinos durante três dias, no último dos quais cantou-se um Te-Deum, com a presença de todas as autoridades eclesiásticas, civis e militares, grande número de eclesiásticos e de pessoas de todas as classes.
[13] Ibidem, pp. 333-336. Só três meses após a bula “Inefflabilis Deus”, a 16 de Março de 1855, o rei D. Fernando, regente do reino na menoridade de D. Pedro V, viu reunidas as condições legais para a concessão do real Beneplácito, só possível depois da aprovação do mesmo nas duas câmaras parlamentares.
[14] Ibidem, pp. 337-342; (Leite, 2004), pp. 30. A memória deste evento ficou registada num quadro figurativo que existia na sacristia do extinto Convento dos Remédios, e hoje se encontra na Igreja do Pópulo, em Braga. Nele se pode ler o seguinte: “Este glorioso acontecimento foi pela primeira vez celebrado em Portugal, com pública solenidade nesta Igreja dos Remédios, em 7 de Janeiro de 1855”.
[15] O Colégio de São Paulo fora fundado em 1531 pelo arcebispo D. Diogo de Sousa, e desde 1560 encontrava-se sediado num edifício propositadamente construído a instância de outro arcebispo, D. frei Bartolomeu dos Mártires. Entregue à Companhia de Jesus, foi durante dois séculos um autêntico centro difusor da cultura em toda a região bracarense. Após a extinção pombalina da ordem jesuíta, foi entregue à Ordem das Ursulinas, que desde 1784 até 1880 ali mantiveram o magistério do ensino.
[16] Segundo informações constantes nas notas familiares redigidas por António Fernando Sottomayor, seu sobrinho-neto, o cónego Francisco Barbosa fora despachado a 18 de Maio de 1823, Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, com tratamento de “Senhoria”.
[17] (Leite, 2004), pp. 31-32.
[18] Ibidem, pp. 44.
[19] Episódio recolhido por Monsenhor José Augusto Ferreira, e publicado no periódico O Sameiro do mês de Maio de 1926.
[20] (Sottomayor, 2007), pp. 40. Registou o seu sobrinho-neto António Fernando Sottomayor que Francisco Barbosa “tinha um génio extraordinariamente violento, sendo corrente a frase «sai ao Tio Cónego» quando algum dos meninos da família manifestava mau génio”.
[21] Egas Moniz, A. C. (1946). Júlio Dinis e a sua obra (6ª ed.). Porto, Portugal: Livraria Civilização, pp. 276-286. Demonstra o autor através da análise de um manuscrito inédito de Júlio Dinis, que a casa e hábitos de D. Arcângela Benedita serviram de base para a personagem de D. Doroteia, madrinha de Madalena, a “Morgadinha dos Canaviais”. Conheceu-a o romancista em 16 de Maio de 1863, durante a sua estadia em Ovar.
[22] Comentário e memória do incidente constam nas notas familiares redigidas por António Fernando de Sequeira Barbosa Sottomayor. O casamento realizou-se na Capela de São Francisco de Paula, no lugar da Sobreira, freguesia de Avanca (Estarreja), em 16 de Agosto de 1792, sendo celebrado pelo padre Luís Marques do Couto, irmão do noivo. O casal viveu em Estarreja, na sua casa do lugar da Fontinha do Paço, onde nasceram os cinco filhos: Manuel Bernardo, Francisco, Pedro, Joaquim Calixto e José Luís.
[23] Agostinho Luís Marques do Couto que também se apelidava “Fontinha e Silva”, nasceu em Pardilhó (Estarreja) a 15 de Fevereiro de 1740 e foi baptizado pelo padre Manuel de Pinho a 20 do mesmo mês e ano, sendo padrinhos o Dr. Agostinho Marques do Couto, Provisor do Arcebispado de Braga, representado pelo licenciado Victoriano Pereira da Cruz, e Bernarda Josefa Pereira Marques do Couto filha deste. Morreu a 10 de Maio de 1823, sendo sepultado na Capela de Nossa Senhora das Dores, dentro da Igreja de Beduído (Estarreja). Posteriormente foi trasladado para o jazigo da família, mandado erigir no cemitério da vila por seu neto Francisco Barbosa, Presidente da Câmara e Deputado da Nação.
[24] Manuel Marques Fontinha e Silva nasceu em Beduído (Estarreja) a 17 de Março de 1707. Casou em Pardilhó (Estarreja) a 5 de Fevereiro de 1739 com D. Maria Marques do Couto, nascida naquela freguesia a 26 de Abril de 1712 e baptizada a 5 do mês seguinte, filha do capitão das companhias de ordenanças de Santiais e Ul (Beduído) Manuel Marques do Couto e de sua mulher Maria João, e sobrinha do Dr. Agostinho Marques do Couto mencionado na nota anterior. Maria morreu a 4 de Maio de 1783, e Manuel a 17 de Novembro de 1798. O casal viveu na sua casa do lugar de Salgueiro, na freguesia de Pardilhó (Estarreja), onde nasceram os sete filhos: Agostinho Luís, Ana, Joaquim José, Bernardo José, Antónia, Luís e Pedro José.
[25] Sottomayor, A. P. (1994). Lembranças… História Social e Genealógica da Casa da Fontinha. (A. P. Sottomayor, ed.) Lisboa, Portugal, pp. 12-13.
[26] Casaram na Igreja de Beduído a 3 de Maio de 1672, na presença do padre Bartolomeu Dias de Oliveira. Manuel morreu em 15 de Setembro de 1701 e Marta João em 30 de Junho do ano seguinte. Nasceram-lhes três filhos: Luís, Manuel e Maria.
[27] Luís nasceu no lugar da Fontinha do Paço, freguesia de Beduído (Estarreja), a 8 de Outubro de 1683, tendo sido baptizado a 28 do mesmo mês pelo padre Luís de Paiva Correia. Foram padrinhos o padre Luís Marques, e Bernarda, solteira, filha de Bartolomeu Marques. Casou na Igreja de Beduído, em 22 de Abril de 1704, com Maria da Silva, filha de Manuel João e outra Maria da Silva, oficiando a cerimónia o padre Manuel Marques, e tendo por testemunhas os padres Domingos Coelho e João Dias, todos de Beduído. Morreu em 9 de Outubro de 1753, e teve de sua mulher quatro filhos: Manuel, Maria, Madalena Teresa e Helena.
[28] (Leite, 2004), pp. 32.
[29] O título de “Primaz das Espanhas” cabe ao arcebispado de Braga por ser a mais antiga diocese da Península Ibérica. Quando da criação do reino de Portugal, ouve disputa entre Braga e Toledo pela distinção, acabando esta última por ser considerada “Primaz da Espanha”, enquanto Braga conservou a designação plural.
[30] (Leite, 2004), pp. 55-56.
[31] Ibidem, pp. 56. O juramento foi feito a 14 de Junho de 1637, durante o Sínodo Arquidiocesano presidido pelo então Arcebispo Primaz D. Sebastião de Matos Noronha
[32] Ibidem, pp. 57-58.
[33] Ferreira Queiroz, J. F. (2005). Os Amatucci – três gerações de uma família de artistas. Actas do VII Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte-Artistas e Artífices e sua Mobilidade no mundo de expressão portuguesa. (pp. 221-230). Porto, Viana do Castelo, Barcelos e Póvoa de Varzim. Emídio Amatucci considerava-se o primeiro que “no Porto estabeleceu allem de outras indústias huma oficina de todo e qualquer trabalho em mármore”. Segundo o autor, especialista no tema, Amatucci faleceu em Braga em finais de 1872, deixando obras de grande relevo e importância histórica. Aquela que mais visibilidade lhe trouxe, foi precisamente a estátua de Nossa Senhora da Conceição que rematava o Monumento do Sameiro.
[34] (Leite, 2004), pp. 58-59.
[35] Ibidem, pp. 60-61.
[36] Ibidem, pp. 62-63.
[37] Martins Zuquete, A. E. (1987). Armorial Lusitano (3ª ed.). Lisboa, Portugal: Representações Zairol, pp. 187-188. CUNHA: De ouro, com nove cunhas de azul, postas 3, 3 e 3; CUNHA (senhores de Tábua/modernas): De ouro, com nove cunhas de azul, postas 3, 3 e 3; bordadura cosida de prata, carregada de cinco escudetes de azul, cada escudete carregado de cinco besantes de prata, postos em sautor.
[38] Ibidem, pp. 81-82. BARBOSA: De prata, com banda de azul carregada de três crescentes de ouro e ladeada de dois leões afrontados e trepantes de púrpura, armados e lampassados de vermelho. Timbre: um leão do escudo.
[39] Lopes Cardoso, A. P. (2005). A honra de Barbosa. Subsídios para a sua história institucional (século XII-1834). Cadernos do Museu, 10-2005 (História local. Museu de Penafiel. Uma longa História), pp. 213.
[40] Sotto Mayor Pizarro, J. A. (1999). Linhagens Medievais Portuguesas. Genealogias e Estratégias (1279-1325) (Vol. I). Porto, Portugal: Centro de Estudos de Genealogia, Heráldica e História da Família. Universidade Moderna. Porto, pp. 513-515. O autor analisa o percurso da linhagem entre os séculos XII e XIII, referindo o seu declínio no começo do século XIV como responsável pela extinção da varonia legítima e “um medíocre anonimato”.
[41] Num fórum de genealogia na internet, Miguel Mora corrige a informação de Felgueiras Gaio, sistematizando a sucessão na Quinta do Barral extraída dos sucessivos processos de emprazamento: Aquele Francisco Barbosa sucedeu o filho do mesmo nome – casado com Jerónima Aires, da casa do Patim em Arouca –, e o neto Francisco Barbosa Reimão – casado com Clara da Cunha de Azevedo, da casa do Mato em Salreu (Estarreja). Foram irmãos deste último, João e Pedro Barbosa Reimão, ambos casados com duas irmãs da casa da Póvoa, em Ovar. http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=175480&fview=e
[42] Segundo o manuscrito de Frei Bernardo do Amaral “Genealogia dos Pinhos, Almeydas e Amaraes”, Clara da Cunha era filha de Jerónimo da Cunha de Azevedo e de sua mulher Maria Gomes de Loureiro; neta de António da Cunha “o Velho” e D. Maria Jerónima de Azevedo; todos da Quinta do Mato em Salreu. Acerca de Bento da Cunha Perestrelo, seu bisavô e demais ascendência, pode consultar-se Montenegro, J. B. (2011). Origem da Casa do Couto, Salreu, Estarreja. (C. M. Estarreja, Ed.) Terras de Antuã. Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja, 5-2011, pp. 89-92.
[43] Ibidem. Também se chamou Maria Clara Benedita da Cunha Melo e Sampaio, por ser filha dos morgados da Torre de Sampaio (Mouçós-Vila Real) Jerónimo Pereira de Melo e Castro e D. Francisca Maria Pereira de Castro.
[44] (Martins Zuquete, 1987), pp. 185-186. COUTO: De vermelho, com um castelo de prata, lavrado de negro, aberto e iluminado sobre um contrachefe ondado de prata e azul. No brasão pintado no quadro do Sameiro, o castelo surge pintado de ouro, o que é erro manifesto.
[45] Ibidem, pp. 354-355. MELO: De vermelho, com dobre-cruz de ouro, acompanhada de seis besantes de prata; bordadura de ouro.
[46] José Teixeira de Melo e Castro, morgado do Mato e da Torre de Sampaio, foi cavaleiro professo da Ordem de Cristo, e Correio-Mor de Vila Real. António Teixeira Pinto de Melo e Castro sucedeu nos cargos e morgadios da casa. Nasceu a 23 de Dezembro de 1722, e segundo o seu processo de Habilitação para a Ordem de Cristo, foi “muito bem procedido, sem acções que desdourem o seu nascimento, sendo abundante de bens, com bom trato da sua pessoa, cavalos, criados e escudeiros”. Recebeu o Hábito em 7 de Novembro de 1753.
[47] A propriedade passaria ainda ao sobrinho homónimo, deputado e autarca de Estarreja, que finalmente a vendeu.
[48] (Leite, 2004), pp. 41-42.
[49] Ibidem, pp. 65-66. Na quarta e última sessão do I Concílio do Vaticano, celebrada a 18 de Julho de 1870 por Pio IX, ficou declarado este novo dogma da teologia católica: graças à intervenção do Espírito Santo, quando o Sumo Pontífice delibera e fala ex-cathedra em matéria de fé ou moral, está sempre correcto, e preservado de todo o erro. Por isso as suas definições são sempre irreformáveis.
[50] Martins Zuquete, A. E. (2000). Nobreza de Portugal e do Brasil (3ª ed., Vol. II). Lisboa, Portugal: Edições Zairol, pp. 646. Joaquim José da Costa Rebelo (Braga, 1788 – Braga, 1875) era fidalgo-cavaleiro da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo e da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, e grande proprietário e capitalista de Braga. Exerceu os cargos de recebedor-geral da Província do Minho e de provedor da Misericórdia de Braga.
[51] Ibidem, pp. 68-70.
[52] Ibidem, pp. 101-109.
[53] Ibidem, pp. 71-73.
[54] Ibidem, pp. 133. Segundo o autor, uma escritora que não identifica, terá respondido dessa forma à pergunta de uma criança.

1 comentário:

  1. A imagem que expõe do monumento à Imaculada, no Sameiro, é um postal ilustrado das primeiras décadas do séc. XX e não corresponde à legenda, que indica os anos de 1869-1883. O primitivo monumento à Imaculada, que ali esteve durante esses 14 anos, era muito diferente do da imagem. Para já não falar da capela primitiva, a que chama ermida, também ela muito diferente da igreja que se vê na imagem, que foi começada em 1890.

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