Caía a tarde no velho burgo dos arcebispos, em
domingo de Pentecostes. Por entre uns poucos atrasados que à última se
introduziam na Sé pelos santos óleos da Confirmação, um vulto de baixa
envergadura trilhava o caminho inverso, descendo ligeiro os polidos degraus de
granito milenar. Trajava batina, cujo negro destacava a rendada sobrepeliz, e
fazia-se cobrir por uma murça cinza de que ressaltava o cordão violáceo. Tratava-se
por certo de um cónego… o que a denunciada coroa, casualmente a descoberto na
rápida troca do solidéu pelo barrete, também não desmentia. Sexagenário
debutante – nascera em Estarreja a 4 de Fevereiro de 1795 –, apressava-se no
regresso a casa. Antevia longo serão, revendo a papelada de um processo que o
trazia preocupado, e ao qual, na manhã seguinte, daria sentença no desembargo
da Relação Pontifícia.
Não lhe adivinhava tal cuidado a velhusca que de
improviso o abordou. Encostava-se ao varandim balaustrado da galilé, onde por
momentos repousava as agruras da vida, e as pernas cansadas que metera ao
caminho! Soerguendo timidamente a grosseira bengala, captou-lhe a atenção com
um rouco vozear cuja firmeza parecia desacreditar a enrugada e vetusta
aparência:
- Valei-me Senhor Cónego! Pela alminha de a quem
mais quer!
Impacientou-se o beneficiado, cujo irascível feitio
não admitia contrariedades. Muito menos quando outro dever o chamava, e bom
sucesso almejara na discrição com que se ausentara, antes do cerimonial levar
termo. Assim mesmo, retorquiu-lhe com bonomia:
- Dize-me, anciã de Deus. Como te posso ajudar?
Ali mesmo pretendia confessar-se, evitando a espera
a que se obrigava nos confessionários, pela muita afluência de fiéis. Só desse
modo, poderia ainda chegar a tempo de receber o crisma que o Cardeal-Arcebispo
se ultimava a administrar!
Espantou-se aquele com a finura da mulher. No
entanto, e para bem do tempo que levava contado, não lhe podia acudir. Sem mais
delongas, justificou-se com subtileza:
- Bem o gostaria, irmã! Contudo não me é permitido
fazê-lo, pois aqui onde me vê, ainda nem sequer disse missa!
Abalada em parte pelo que acabava de ouvir, e
noutro tanto pela imprevista recusa que lhe complicava os planos, desacostou-se
a septuagenária, retomando a direcção do interior do templo. O cónego ainda a
seguia com o olhar, quando ela se virou, despedindo-se piedosamente:
- Coitadinho… até tão tarde em jejum![1]
Galilé da Sé de Braga |
Nisto conjecturava, alheando-se do trajecto que de
hábito o levava, em pouco mais de dez minutos, ao Terreiro de Santo António
onde, na “Casa Grande”[5], vivia
acompanhado pelas sobrinhas Rita de Cassia e Maria Henriqueta[6]. Já
se propunha deixar a rua de Santa Maria e atravessar o largo de São Paulo,
evitando subir as intrincadas vielas da antiga judiaria – de que a sua casa
fora em tempos, respeitável sinagoga[7] –,
quando uma voz bem conhecida o arrancou do seu lucubrar:
– Pois se não é Vossa Senhoria, o meu bom amigo
Cónego Barbosa? – introduziu aquele que se encaminhava a São João, onde morava.
Era o bom Padre Martinho! E se o génio difícil de
Francisco, naquela esquina se não voltou a manifestar face a novo empecilho da
sua vontade, à muita amizade que devotava ao recém-chegado naturalmente se
devia. Logo se abraçaram, confortando-se mutuamente as espáduas. Um deles bem
entroncado, pleno na vitalidade dos seus quarenta e três anos[8]; o
outro, já o sabemos baixo e sessentão. Gémeos no feitio, cobriam virtude e
bondade com capa austera. Do primeiro dizia quem o conhecia, ser em extremo
cativante no trato, tornando impossível não lhe dedicar grande estima[9];
do segundo sobrou fama de excelente pessoa, muito considerada em Braga[10].
Aos dois aproximara certa casualidade: vivendo na
mesma rua, Francisco vira crescer Martinho desde criança. Acompanhara a sua
entrada no Seminário a cursar Filosofia, e conhecera-lhe o ensejo de se tornar
sacerdote, no borralho gerado pelo infeliz decreto do “Mata-Frades”[11].
Enfim ordenado já passava dos trinta, bastas vezes se lhe cruzava ao caminho,
entrando ou saindo da Misericórdia, onde no coro, habituava os fiéis a um
ofício divino entoado como poucos. Amiúde o encontrava também o cónego, na rotina
diária das idas e vindas do paço arquiepiscopal, desde que Martinho da Silva se
mudara para a rua do Souto. Por mais breve que fosse o colóquio, sempre
fomentava a amizade e respeito mútuo.
No entanto, e qual raridade no costume, desta feita
não se viam há semanas! Mais precisamente desde a manhã da terça-feira de Pascoela,
em que coincidiram no terreiro da Sé, à saída de um solene Te-Deum. Encerravam-se as celebrações oficiais que anunciavam a
definição dogmática da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria[12].
No largo apinhava-se a gente, ao som da banda marcial chamada à guarda de
honra. Foi o momento escolhido pelo Padre Martinho, para num desabafo se
mostrar insatisfeito com a menor dimensão popular imprimida ao evento. O dogma
de Nossa Senhora, a padroeira de Portugal, merecia o carinho e o voto do povo.
Não se devia cingir à seriedade do aparato hierárquico!
Padre Martinho António Pereira da Silva (1812-1875) Fotografia: Bruno Azevedo |
Cónego Francisco Barbosa do Couto Cunha e Melo (1795-1871) Fotografia: Bruno Azevedo |
Apesar dessas festas e daquelas celebradas na
Páscoa, neste fim de tarde de Pentecostes, quando a caminho de casa prosava com
o Cónego Barbosa, Martinho persistia no sentir de que ainda faltava um acto mais
abrangente e maior. Algo como…
– Uma procissão, amigo Francisco. Venho agora do
Colégio[15]
onde apresentei a ideia à Superiora das Ursulinas, a qual muito alegremente se lhe
manifestou favorável. Lá para fins de Agosto, sairá a imagem de Nossa Senhora
por entre o povo de Braga que nas ruas a quiser honrar!
– Pois queira o amigo Martinho contar comigo, se
acaso lhe convier. Bem conhece o quanto sou devoto à Senhora. E mesmo que o não
fosse pelo amor do coração, sê-lo-ia pela obrigação de a servir por Cavaleiro[16].
Haverá de me falar sobre esses planos… mas hoje não, meu caro padre… que me
apresso em trabalhar até tarde!
Insígnia da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa Fotografia: Rodrigo Viana Machado |
Não se guardou notícia de que a oferecida ajuda
tivesse efeito. O que os registos todavia garantem, é que o Padre Martinho
levou adiante o seu intento. De facto, a 2 de Setembro desse ano de 1855, uma
procissão absolutamente magnífica em honra de Nossa Senhora da Torre percorreu
as ruas da cidade arcebispal, terminando em apoteose na Igreja do Colégio, ao
Largo de São Paulo. Terminavam desse modo, três dias de uma festa que Martinho
da Silva idealizara e conseguira levar a cabo[17].
E não se duvide que pela devoção ou por morarem a
dois passos no vizinho terreiro de Santo António, ali estiveram o Cónego Barbosa
e sobrinhas. Talvez até o irmão Pedro – igualmente Cavaleiro da Conceição de
Vila Viçosa – por lá também fosse visto com a restante família, viajados a
propósito desde São Paio de Parada de Tibães, freguesia próxima.
Largo de São Paulo. À esquerda a igreja do Colégio (S. Paulo); à direita a capela de Nossa Senhora da Torre |
- Meu caro Cónego… – terá respondido. – Na igreja,
desde a corda do sino até ao cabo da vassoura, tudo é serviço de Deus![19]
Aquele beneficiado bem podia ser Francisco Barbosa.
Já o sabemos excelente pessoa e muito conceituado em Braga, apesar do seu “génio extraordinariamente violento”[20]. Estima-se igualmente que a sua elevada
posição no arcebispado, aliada aos pergaminhos dos seus maiores, lhe
favorecessem alguma presunção.
Talvez não tanta quanto a de dona Arcângela
Benedita Barbosa, sua prima direita: “uma
preciosa ridícula (…) com presunções de nobreza tão arreigadas, que não se
dignava visitar a maior parte das famílias da vila” de Ovar, onde vivia. Assim
a descreviam os conterrâneos, e boa poesia fomentou em Júlio Dinis, ao
construir a morgada Doroteia de um dos seus mais notáveis romances[21].
Ao lado materno de Francisco correspondia a
prosápia; do paterno adjectivava-se a árvore por “distinta e abastada, posto que não fidalga”. A diferença trouxera
melindres ao casamento dos pais que não vira aprovação dos parentes de D. Maria
Clara Benedita Barbosa da Cunha e Melo[22].
Não obstante Agostinho Marques do Couto[23] e
Manuel Marques Fontinha[24],
pai e avô do cónego, terem-se formado em Coimbra, a origem conhecida da estirpe
remontava a uns simples lavradores do lugar de Santiais, freguesia de Beduído
(Estarreja): Domingos António e Maria Marques. A herança de uma tia levara em
1687 os filhos do casal – Domingos, Manuel, Luís e Maria – à Fontinha do Paço, um
outro lugar da freguesia, a tomar posse de uma casa de lagar[25]. Vivendo
do que plantavam, colhiam e transformavam, ali residiram os trisavôs paternos
do Cónego Barbosa – Manuel Marques Fontinha e Marta João[26] –
assim como os bisavôs Luís Marques Fontinha e Maria da Silva[27]. Não
era portanto o Cónego Barbosa, um fidalgo dos quatro costados; sobrar-lhe-ia
contudo, a vontade de o parecer. Nomeadamente numa sociedade tão arcaizante
como o seria a bracarense de oitocentos! Nesse particular não comungava da
simplicidade genuína do amigo Martinho da Silva, nascido em berço de modesta
condição[28].
Deste também se conta que alguns anos depois dos
acontecimentos relatados, se encontrou ocioso certa tarde no Bom-Jesus do
Monte., de visita ao capelão-mor do santuário, padre Manuel Antunes dos Reis.
Desafiaram-se a subir dali ao monte Sameiro, num agradável passeio de meia hora.
Foi quando o Padre Martinho, relembrando outros exemplos similares que surgiam
pelo mundo, concebeu a ideia de um monumento celebrando a Imaculada Conceição
de Maria. Precisamente ali, no alto da colina do Sameiro, vigilando a sede
Primaz de todas as Espanhas[29].
Tecto do salão da "Casa Grande" da Rua de Santo António das Travessas (Braga) Fotografia: António Fernando de Sequeira Sottomayor |
Francisco Barbosa estava, naturalmente, entre eles.
A sua devoção mariana e a amizade que o ligava ao padre dos Remédios, a isso
faziam esperar. Num qualquer ponto da cidade, talvez até no salão da “Casa
Grande” – miudeza que a história não registou –, constituiu-se a 11 de Maio de
1862 aquela que seria a primeira Comissão organizadora do Monumento da
Imaculada Virgem do Sameiro. Martinho da Silva encerrava a lista dos seus
elementos, como segundo secretário. Já o Cónego Barbosa encabeçava o rol,
proposto como presidente[30].
Depois veio a aprovação e autorização do Arcebispo
Primaz D. José Joaquim de Azevedo e Moura (20 de Maio). Acto consequente,
escreveu a Comissão uma carta a diversos bracarenses, em busca do necessário
apoio financeiro para as projectadas obras. Estendeu-se o pedido a outras
partes de Entre-Douro-e-Minho, e muitas corresponderam a título individual.
Aquilatou-se do melhor local e a 14 de Junho de 1863 – precisamente duzentos e
vinte e seis anos depois de Braga ter jurado solenemente, para sempre defender
a Imaculada Conceição de Maria[31]
–, deu-se início à cerimónia de lançamento da primeira pedra. Tinha aquela uma
cruz gravada e foi colocada frente a um modesto oratório, emoldurada pela
bandeira real entre muitas outras, e toda a beleza natural do monte Sameiro.
Entoaram-se salmos e antífonas e rematou-se o acto inaugural com uma missa no
Santuário do Bom-Jesus[32].
A Comissão, briosa, contratou o mestre canteiro do
Porto, Emídio Amatucci, reconhecido na época pelo seu trabalho de estatuária
funerária, no qual se destacava impondo estilo, tanto no Porto como em Braga[33].
Haveria de esculpir num só bloco de mármore vindo propositadamente de Roma, uma
imagem de Nossa Senhora da Conceição com três metros de altura – ou 14 palmos
como constava da encomenda! Laborioso mister que consumiu cinco intermináveis
anos! Não o trabalho de artista, pois esse aprontou-se nalguns meses. O sarilho
foi encontrar a pedra, cortá-la e fazê-la chegar de barco até ao Porto. Já desesperava
a Comissão de Francisco Barbosa, e desanimava o amigo Martinho!
Monumento à Imaculada Conceição da Virgem, no monte Sameiro (1869-1883) |
As quatro faces do pedestal, justificavam o
monumento à posteridade[35]:
Na manhã da festa do Imaculado Coração de Maria (29
de Agosto), celebrou-se a sua bênção solene, ministrada pelo Arcebispo Primaz.
Acompanharam-no alguns cónegos, muitos sacerdotes, todos os membros da primeira
Comissão, meia cidade de Braga e arredores. Martinho da Silva exultava,
enquanto conduzia as vozes pelas estrofes do Hino da Imaculada que ele mesmo
escrevera, e Joaquim José Rodrigues da Silva musicara: “Do Sameiro nas belas alturas / Majestoso elevado padrão / Anuncia às
idades futuras / De Maria a feliz Conceição. / Salve Monte mil vezes famoso /
Entre montes do bom Portugal! / Em teu cimo já brilha vistoso / Da ventura e da
paz o sinal.”[36]
Terminou a cerimónia numa genuína apoteose de fé;
um raro telegrama de Pio IX, abençoava a cidade de Braga e toda a Nação
Portuguesa, “com efusão do seu coração”!
Cumprira o seu sonho o Padre Martinho, e o Cónego Barbosa a sua missão.
Quiseram por isso homenageá-los, registando-lhes a
efígie a óleo, num tempo em que o cliché
ainda não ganhara pernas. Singelo o primeiro na sua modéstia, carregado o outro
de pompa, não destoavam de como se conheciam, e aos olhos mundanos se davam.
Martinho da Silva traja de sacerdote… e pouco mais
há a dizer, numa tela onde predomina a discrição entre a negrura das vestes e a
sépia do fundo. Pelo contrário, Francisco Barbosa está de cátedra, respeitável
em todos os detalhes do traje de cónego que enverga, e do qual sobressai o
púrpura eclesiástico. Acumula solidéu e barrete negros e a coberta da mesa onde
se apoia, reforça o tom da dignidade. Não faltam saber e leis nos livros que o
acompanham, e num dos cantos o brasão de família, pontuando a legenda que “da lei da morte o libertará”:
Francisco
Barbosa da Cunha e Mello – B.el formado em Cânones, Cónego da Sé
Primaz, Presidente da Comissão organisadora do Monumento da Immaculada Virgem
do Sameiro.
Constituída que foi uma segunda Comissão em 1883,
logo se acrescentou na legenda a ressalva: (…)
Presidente da 1ª Comissão (…)!
Pedra de armas que existia na fachada da Casa da Fontinha, em Estarreja. Fotografia: António Pedro de Sottomayor |
O cónego era naturalmente cioso da sua ascendência.
Quanto mais não fosse porque se espelhava no romantismo da época. Evocando a
varonia materna, brasonava-se primeiramente de BARBOSA[38],
uma das mais antigas linhagens portuguesas, da região duriense, onde a Honra de
que tomaram apelido se fundara na primeira metade do século XII com o
terra-tenente de Penafiel D. Mem Moniz, irmão do célebre aio do rei Afonso[39].
Casada a filha com D. Sancho Nunes, da casa condal galega de Celanova (Ourense), transmitiu-se o gentilício às suas
gerações, de que muitas se perdeu notícia na bruma dos tempos[40].
Não foi o caso de um certo Francisco Barbosa,
fidalgo da Casa Real que em 1578 pelejou ao lado de D. Sebastião na dramática
derrocada de Alcácer-Quibir. Acabou cativo, sendo mais tarde resgatado de modo
a poder regressar ao solo pátrio, onde por mercê recebeu a escrivania das Cisas
do concelho de Paiva. Desde Abril de 1551 que levava emprazada a Quinta do
Barral, em Santa Maria de Sardoura (Castelo de Paiva), com foro de 400 reais e
duas galinhas! Pai e avô de outros Franciscos que ali viveram[41],
acabaram os sucessores por casar entre Estarreja e Ovar, graças à escrivania
dos Órfãos da primeira, e ao cargo de capitão desta última vila, de que ao cabo
de quatro gerações, um tio do Cónego Barbosa fora o último titular.
Pedra de armas que existia na frontaria da casa: um partido de BARBOSA e CUNHA (de Tábua). Fotografia: António Fernando de Sequeira Sottomayor |
Pedra de armas que ilustrava a desaparecida casa da Quinta do Mato: pleno de CUNHA. Fotografia: António Pedro de Sottomayor |
Capela do morgadio da Torre de Sampaio, em Mouçós (Vila Real). Fotografia: António Pedro de Sottomayor |
Pedra de armas da capela, apresentando um escudo esquartelado de MELO, TEIXEIRA, CUNHA e CHAVES. Timbre de MELO. Fotografia: António Pedro de Sottomayor |
Houve mal-estar na Casa da Fontinha, em Estarreja.
Maria Clara Benedita reagiu, impondo um pleito judicial ao sobrinho que durou
mais de um ano. Por fim em 1832, a sentença ditava pertencer-lhe o morgado de
Vila Real, por ser de instituição transversal e não haver direito de representação;
apenas de proximidade de parentesco. Ao sobrinho caberia o morgado do Mato, em
Salreu, por ter sido instituído por um ascendente e Francisco representar a sua
linha desde a morte do pai, ocorrida em 1826.
Quando a mãe morreu a 1 de Novembro de 1850, o
Cónego era então o filho mais velho, uma vez que Manuel Bernardo sucumbira
durante as acções do cerco do Porto, em 1832. Coube-lhe por isso suceder como
morgado da Torre de Sampaio, título que deteve até à entrada em vigor da lei de
extinção dos morgadios, em 19 de Maio de 1863[47],
andando então em bolandas à procura de apoios para a construção do monumento à
Virgem.
Aqueles retratos de Francisco e Martinho haveriam
de chegar aos nossos dias, entre Papas, Bispos, Padres e outros benfeitores, na
sala da Mesa da Confraria da Imaculada Conceição do Monte Sameiro, cujos
primeiros estatutos se redigiram a 8 de Agosto de 1877. Já nenhum dos amigos
viu chegar este dia, acabando-se o mais velho com setenta e seis anos, a 12 de
Maio de 1871, e o mais novo antes dos sessenta e três, em 8 de Abril de 1875[48].
Antes porém, esteve o padre com o cónego,
velando-lhe o final. Para o distrair falou-lhe da viagem que recentemente
fizera a Roma, por ocasião do I Concílio do Vaticano, e os planos em que
empreendia desde então. Embora debilitado, Francisco Barbosa ainda retorquiu
surpreendido:
– Meu bom amigo… Mas a sua fé não descansa? Ainda
agora erguemos um notável tributo ao dogma de Maria, e já pensa em celebrar a
infalibilidade papal[49]
que o decretou, com uma capela no mesmo local?
E de facto, assim foi., embora Francisco Barbosa já
não assistisse. Colmatou a sua ausência à cabeça da Comissão o rico Barão da
Gramosa[50],
e a 29 de Agosto de 1873, durante a habitual romaria ao Sameiro, foi lançada a
primeira pedra da ermida que estaria pronta e abençoada sete anos adiante,
depois de muita indecisão e maior retorica[51].
Faltava a mão firme do promotor, e já se zangava o comadrio!
Porque Martinho da Silva só viveu a graça de ver as
obras começadas. Nem acordou na bonançosa manhã de 10 de Janeiro de 1883,
constatando a súbita ruina do padrão que tudo motivara, logo reconstruído em
menos de um triénio[52].
Ou sequer assistiu à ampliação do templo para sua “maior majestade e distinção”, que se arrastou cinco décadas entre
1890 e 1941, e que hoje pontua a colina do Sameiro, a par do Bom-Jesus de
Braga. Não soube também que nos cem anos da sua existência se viu o santuário
elevado à qualidade principal de “Basílica”[53].
Basílica de Nossa Senhora do Sameiro. Fotografia: Bruno Azevedo |
No presente ano de 2013, comemoram-se os cento e
cinquenta anos do lançamento da sua pedra angular. Nessa cerimónia de antanho
tão primordial, louvara o Deão da Sé de Braga os membros da Comissão fundadora,
“pela acertada escolha dum local que
parece fadado pela natureza, para anunciar às gentes e aos vindouros um facto,
cuja memória deve ser perene e imorredoura”. Um deles era filho de
Estarreja. Celebre-se igualmente o sucesso!
Nota de agradecimento: Este artigo contou com a disponibilidade do
actual reitor do Sameiro, Padre Joaquim Morais da Costa, o qual amavelmente
autorizou que se fotografassem os quadros de Martinho da Silva e Francisco
Barbosa, e nos obsequiou com a última edição da “História do Sameiro”, da
autoria do Padre Fernando Leite. O voto é extensivo ao director desta
publicação Dr. Delfim Bismarck, e ao fotógrafo da Câmara Municipal de Estarreja
Bruno Azevedo que para o efeito ali se deslocaram propositadamente.
*Este artigo foi publicado em "Terras de Antuã. Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja", Nº 7 - Ano 7 - 2013
*Este artigo foi publicado em "Terras de Antuã. Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja", Nº 7 - Ano 7 - 2013
[1] O anedótico episódio foi
recolhido na cidade de Braga, em Junho de 1957, por António Fernando de
Sequeira Barbosa Sottomayor, sobrinho-neto do cónego Francisco Barbosa.
Contou-lho então o cónego Manuel de Aguiar Barreiros que sempre ali viveu e
fora amigo da família.
[2] Francisco Barbosa do
Couto Cunha e Melo, como foi baptizado em Beduído (Estarreja), ou Francisco
Barbosa Marques do Couto, como melhor se conhecia em Braga, em virtude de ser
então o titular da família na Sé Primaz, centenária representação que se
mantinha desde a investidura no canonicato, em 1721, do tio-bisavô Agostinho
Marques do Couto, de Beduído. Reconto e detalhes da presença em Braga, dos
Marques do Couto em, Serpa Brandão, F. (2007). Uma Família de Estarreja. Notas
genealógicas sobre o ramo materno da família de D. Frei Caetano Brandão, Bispo
do Pará e Arcebispo Primaz de Braga. (C. M. Estarreja, Ed.) Terras de Antuã. Histórias e Memórias do
Concelho de Estarreja, 1-2007, pp. 150-157; e Sottomayor, A. P. (2007).
Divagações a propósito de um velho retrato. Rostos da Fontinha. Ibidem, pp. 48-53.
[3] Licenciado em Direito,
Bernardo José Marques do Couto foi cónego da Sé de Braga, pelo menos desde 1793
até 8 de Abril de 1820, data do seu óbito. Era filho do licenciado Manuel
Marques Fontinha, de Beduído, e de sua mulher D. Maria Marques do Couto, de
Pardilhó (Estarreja), freguesia onde terá nascido a 16 de Novembro de 1746, na
casa do lugar do Salgueiro, hoje desaparecida. Padrinho de Francisco Barbosa,
avizinhando-se a morte, nele renunciou o canonicato de que era beneficiário.
[4] No jazigo de família do
cemitério bracarense de Monte d’Arcos, para onde foram trasladadas as suas
ossadas a demanda do sobrinho homónimo, autarca de referência em Estarreja,
pode ler-se que faleceu a 12 de Maio de 1871, sendo Presidente do Supremo
Tribunal Pontifício da Diocese de Braga.
[5] Vasconcelos, M. A.
(1993). A Casa Grande da Rua de S.to António das Travessas. (A. D. Braga, Ed.) Forum, 12/13 (1992-93), pp. 17-42.
Referenciado documentalmente desde o século XIV, o imóvel esteve na posse da
família desde que foi arrematado, em 1729, pelo cónego Agostinho Marques do
Couto, até 1941, ano em que foi vendido ao Estado Português, por D. Maria
Emília de Barbosa Falcão de Azevedo e Bourbon, natural de Estarreja,
sobrinha-neta do cónego Francisco Barbosa.
[6] (Sottomayor, 2007), pp.
38-45. Respectivamente a filha mais velha e a mais nova de seu irmão Pedro
Barbosa do Couto Cunha e Melo, natural de Beduído (Estarreja), o qual vivia
então nos arredores de Braga, na sua Quinta do Lugar de São Paio de Parada de
Tibães, casado com D. Mariana Cândida de Sá Sottomayor.
[7] (Vasconcelos, 1993), pp.
18, 24. Segundo a autora, foi nesta casa que entre 1466 e 1467, a comunidade
judaica instalou a Sinagoga, provavelmente por se tratar do melhor edifício
existente naquela que então se conhecia por Rua da Judiaria Nova. Ali funcionou
até à expulsão decretada por D. Manuel, em 1496.
[8] Leite, P. F. (2004). História do Sameiro. Braga, Portugal:
Confraria de Nossa Senhora do Sameiro, pp. 32. O padre Martinho António Pereira
da Silva nasceu a 8 de Outubro de 1812, na rua de Santo António, da freguesia
de Santiago da Cividade.
[9] (Leite, 2004), pp.
34-35. Opinião do Padre Luís Gomes, seu amigo sincero e colaborador.
[10] (Sottomayor, 2007), pp.
40. Opinião registada pelo sobrinho-neto António Fernando de Sequeira Barbosa
Sottomayor, com base em relatos familiares.
[11] Alcunha porque se
conhecia o ministro Joaquim António de Aguiar, responsável pelo texto do
Decreto de Extinção das Ordens Religiosas em Portugal, publicado a 30 de Maio
de 1834.
[12] Pimentel, A. (s./d.). História do Culto de Nossa Senhora em
Portugal. (Guimarães, Libânio & Cª, Ed.) Lisboa, Portugal: Livraria
Editora, pp. 347. Em Braga as celebrações oficiais começaram no domingo de
Páscoa dia 9 de Abril de 1855, com a publicação e leitura na Sé da bula papal “Inefflabilis Deus”, contendo a
definição dogmática da Imaculada Conceição. Houve missa, repicaram os sinos
durante três dias, no último dos quais cantou-se um Te-Deum, com a presença de
todas as autoridades eclesiásticas, civis e militares, grande número de
eclesiásticos e de pessoas de todas as classes.
[13] Ibidem, pp. 333-336. Só
três meses após a bula “Inefflabilis
Deus”, a 16 de Março de 1855, o rei D. Fernando, regente do reino na
menoridade de D. Pedro V, viu reunidas as condições legais para a concessão do
real Beneplácito, só possível depois da aprovação do mesmo nas duas câmaras
parlamentares.
[14] Ibidem, pp. 337-342;
(Leite, 2004), pp. 30. A memória deste evento ficou registada num quadro
figurativo que existia na sacristia do extinto Convento dos Remédios, e hoje se
encontra na Igreja do Pópulo, em Braga. Nele se pode ler o seguinte: “Este glorioso acontecimento foi pela
primeira vez celebrado em Portugal, com pública solenidade nesta Igreja dos
Remédios, em 7 de Janeiro de 1855”.
[15] O Colégio de São Paulo
fora fundado em 1531 pelo arcebispo D. Diogo de Sousa, e desde 1560
encontrava-se sediado num edifício propositadamente construído a instância de
outro arcebispo, D. frei Bartolomeu dos Mártires. Entregue à Companhia de
Jesus, foi durante dois séculos um autêntico centro difusor da cultura em toda
a região bracarense. Após a extinção pombalina da ordem jesuíta, foi entregue à
Ordem das Ursulinas, que desde 1784 até 1880 ali mantiveram o magistério do
ensino.
[16] Segundo informações
constantes nas notas familiares redigidas por António Fernando Sottomayor, seu
sobrinho-neto, o cónego Francisco Barbosa fora despachado a 18 de Maio de 1823,
Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, com tratamento
de “Senhoria”.
[17] (Leite, 2004), pp.
31-32.
[18] Ibidem, pp. 44.
[19] Episódio recolhido por
Monsenhor José Augusto Ferreira, e publicado no periódico O Sameiro do mês de Maio de 1926.
[20] (Sottomayor, 2007), pp.
40. Registou o seu sobrinho-neto António Fernando Sottomayor que Francisco
Barbosa “tinha um génio
extraordinariamente violento, sendo corrente a frase «sai ao Tio Cónego» quando
algum dos meninos da família manifestava mau génio”.
[21] Egas Moniz, A. C.
(1946). Júlio Dinis e a sua obra (6ª
ed.). Porto, Portugal: Livraria Civilização, pp. 276-286. Demonstra o autor
através da análise de um manuscrito inédito de Júlio Dinis, que a casa e
hábitos de D. Arcângela Benedita serviram de base para a personagem de D. Doroteia,
madrinha de Madalena, a “Morgadinha dos Canaviais”. Conheceu-a o romancista em
16 de Maio de 1863, durante a sua estadia em Ovar.
[22] Comentário e memória do
incidente constam nas notas familiares redigidas por António Fernando de
Sequeira Barbosa Sottomayor. O casamento realizou-se na Capela de São Francisco
de Paula, no lugar da Sobreira, freguesia de Avanca (Estarreja), em 16 de
Agosto de 1792, sendo celebrado pelo padre Luís Marques do Couto, irmão do
noivo. O casal viveu em Estarreja, na sua casa do lugar da Fontinha do Paço,
onde nasceram os cinco filhos: Manuel Bernardo, Francisco, Pedro, Joaquim
Calixto e José Luís.
[23] Agostinho Luís Marques
do Couto que também se apelidava “Fontinha e Silva”, nasceu em Pardilhó
(Estarreja) a 15 de Fevereiro de 1740 e foi baptizado pelo padre Manuel de
Pinho a 20 do mesmo mês e ano, sendo padrinhos o Dr. Agostinho Marques do
Couto, Provisor do Arcebispado de Braga, representado pelo licenciado
Victoriano Pereira da Cruz, e Bernarda Josefa Pereira Marques do Couto filha
deste. Morreu a 10 de Maio de 1823, sendo sepultado na Capela de Nossa Senhora
das Dores, dentro da Igreja de Beduído (Estarreja). Posteriormente foi
trasladado para o jazigo da família, mandado erigir no cemitério da vila por
seu neto Francisco Barbosa, Presidente da Câmara e Deputado da Nação.
[24] Manuel Marques Fontinha
e Silva nasceu em Beduído (Estarreja) a 17 de Março de 1707. Casou em Pardilhó
(Estarreja) a 5 de Fevereiro de 1739 com D. Maria Marques do Couto, nascida
naquela freguesia a 26 de Abril de 1712 e baptizada a 5 do mês seguinte, filha
do capitão das companhias de ordenanças de Santiais e Ul (Beduído) Manuel
Marques do Couto e de sua mulher Maria João, e sobrinha do Dr. Agostinho
Marques do Couto mencionado na nota anterior. Maria morreu a 4 de Maio de 1783,
e Manuel a 17 de Novembro de 1798. O casal viveu na sua casa do lugar de
Salgueiro, na freguesia de Pardilhó (Estarreja), onde nasceram os sete filhos:
Agostinho Luís, Ana, Joaquim José, Bernardo José, Antónia, Luís e Pedro José.
[25] Sottomayor, A. P.
(1994). Lembranças… História Social e
Genealógica da Casa da Fontinha. (A. P. Sottomayor, ed.) Lisboa, Portugal,
pp. 12-13.
[26] Casaram na Igreja de
Beduído a 3 de Maio de 1672, na presença do padre Bartolomeu Dias de Oliveira.
Manuel morreu em 15 de Setembro de 1701 e Marta João em 30 de Junho do ano
seguinte. Nasceram-lhes três filhos: Luís, Manuel e Maria.
[27] Luís nasceu no lugar da
Fontinha do Paço, freguesia de Beduído (Estarreja), a 8 de Outubro de 1683,
tendo sido baptizado a 28 do mesmo mês pelo padre Luís de Paiva Correia. Foram
padrinhos o padre Luís Marques, e Bernarda, solteira, filha de Bartolomeu
Marques. Casou na Igreja de Beduído, em 22 de Abril de 1704, com Maria da
Silva, filha de Manuel João e outra Maria da Silva, oficiando a cerimónia o
padre Manuel Marques, e tendo por testemunhas os padres Domingos Coelho e João
Dias, todos de Beduído. Morreu em 9 de Outubro de 1753, e teve de sua mulher
quatro filhos: Manuel, Maria, Madalena Teresa e Helena.
[28] (Leite, 2004), pp. 32.
[29] O título de “Primaz das
Espanhas” cabe ao arcebispado de Braga por ser a mais antiga diocese da
Península Ibérica. Quando da criação do reino de Portugal, ouve disputa entre
Braga e Toledo pela distinção, acabando esta última por ser considerada “Primaz
da Espanha”, enquanto Braga conservou a designação plural.
[30] (Leite, 2004), pp.
55-56.
[31] Ibidem, pp. 56. O
juramento foi feito a 14 de Junho de 1637, durante o Sínodo Arquidiocesano
presidido pelo então Arcebispo Primaz D. Sebastião de Matos Noronha
[32] Ibidem, pp. 57-58.
[33] Ferreira Queiroz, J. F.
(2005). Os Amatucci – três gerações de uma família de artistas. Actas do VII Colóquio Luso-Brasileiro de
História da Arte-Artistas e Artífices e sua Mobilidade no mundo de expressão
portuguesa. (pp. 221-230). Porto, Viana do Castelo,
Barcelos e Póvoa de Varzim. Emídio Amatucci considerava-se o primeiro que “no Porto estabeleceu allem de outras
indústias huma oficina de todo e qualquer trabalho em mármore”. Segundo o
autor, especialista no tema, Amatucci faleceu em Braga em finais de 1872,
deixando obras de grande relevo e importância histórica. Aquela que mais
visibilidade lhe trouxe, foi precisamente a estátua de Nossa Senhora da
Conceição que rematava o Monumento do Sameiro.
[34] (Leite, 2004), pp.
58-59.
[35] Ibidem, pp. 60-61.
[36] Ibidem, pp. 62-63.
[37] Martins Zuquete, A. E.
(1987). Armorial Lusitano (3ª ed.).
Lisboa, Portugal: Representações Zairol, pp. 187-188. CUNHA: De ouro, com nove
cunhas de azul, postas 3, 3 e 3; CUNHA (senhores de Tábua/modernas): De ouro,
com nove cunhas de azul, postas 3, 3 e 3; bordadura cosida de prata, carregada
de cinco escudetes de azul, cada escudete carregado de cinco besantes de prata,
postos em sautor.
[38] Ibidem, pp. 81-82.
BARBOSA: De prata, com banda de azul carregada de três crescentes de ouro e
ladeada de dois leões afrontados e trepantes de púrpura, armados e lampassados
de vermelho. Timbre: um leão do escudo.
[39] Lopes Cardoso, A. P.
(2005). A honra de Barbosa. Subsídios para a sua história institucional (século
XII-1834). Cadernos do Museu, 10-2005 (História
local. Museu de Penafiel. Uma longa História), pp. 213.
[40] Sotto Mayor Pizarro, J.
A. (1999). Linhagens Medievais
Portuguesas. Genealogias e Estratégias (1279-1325) (Vol. I). Porto,
Portugal: Centro de Estudos de Genealogia, Heráldica e História da Família.
Universidade Moderna. Porto, pp. 513-515. O autor analisa o percurso da
linhagem entre os séculos XII e XIII, referindo o seu declínio no começo do
século XIV como responsável pela extinção da varonia legítima e “um medíocre anonimato”.
[41] Num fórum de genealogia
na internet, Miguel Mora corrige a informação de Felgueiras Gaio,
sistematizando a sucessão na Quinta do Barral extraída dos sucessivos processos
de emprazamento: Aquele Francisco Barbosa sucedeu o filho do mesmo nome –
casado com Jerónima Aires, da casa do Patim em Arouca –, e o neto Francisco
Barbosa Reimão – casado com Clara da Cunha de Azevedo, da casa do Mato em
Salreu (Estarreja). Foram irmãos deste último, João e Pedro Barbosa Reimão,
ambos casados com duas irmãs da casa da Póvoa, em Ovar. http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=175480&fview=e
[42] Segundo o manuscrito de
Frei Bernardo do Amaral “Genealogia dos
Pinhos, Almeydas e Amaraes”, Clara da Cunha era filha de Jerónimo da Cunha
de Azevedo e de sua mulher Maria Gomes de Loureiro; neta de António da Cunha “o
Velho” e D. Maria Jerónima de Azevedo; todos da Quinta do Mato em Salreu.
Acerca de Bento da Cunha Perestrelo, seu bisavô e demais ascendência, pode
consultar-se Montenegro, J. B. (2011). Origem da Casa do Couto, Salreu,
Estarreja. (C. M. Estarreja, Ed.) Terras
de Antuã. Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja, 5-2011, pp. 89-92.
[43] Ibidem. Também se chamou
Maria Clara Benedita da Cunha Melo e Sampaio, por ser filha dos morgados da
Torre de Sampaio (Mouçós-Vila Real) Jerónimo Pereira de Melo e Castro e D.
Francisca Maria Pereira de Castro.
[44] (Martins Zuquete, 1987),
pp. 185-186. COUTO: De vermelho, com um castelo de prata, lavrado de negro,
aberto e iluminado sobre um contrachefe ondado de prata e azul. No brasão
pintado no quadro do Sameiro, o castelo surge pintado de ouro, o que é erro
manifesto.
[45] Ibidem, pp. 354-355.
MELO: De vermelho, com dobre-cruz de ouro, acompanhada de seis besantes de
prata; bordadura de ouro.
[46] José Teixeira de Melo e
Castro, morgado do Mato e da Torre de Sampaio, foi cavaleiro professo da Ordem
de Cristo, e Correio-Mor de Vila Real. António Teixeira Pinto de Melo e Castro
sucedeu nos cargos e morgadios da casa. Nasceu a 23 de Dezembro de 1722, e
segundo o seu processo de Habilitação para a Ordem de Cristo, foi “muito bem procedido, sem acções que
desdourem o seu nascimento, sendo abundante de bens, com bom trato da sua
pessoa, cavalos, criados e escudeiros”. Recebeu o Hábito em 7 de Novembro
de 1753.
[47] A propriedade passaria
ainda ao sobrinho homónimo, deputado e autarca de Estarreja, que finalmente a
vendeu.
[48] (Leite, 2004), pp.
41-42.
[49] Ibidem, pp. 65-66. Na
quarta e última sessão do I Concílio do Vaticano, celebrada a 18 de Julho de
1870 por Pio IX, ficou declarado este novo dogma da teologia católica: graças à
intervenção do Espírito Santo, quando o Sumo Pontífice delibera e fala ex-cathedra em matéria de fé ou moral,
está sempre correcto, e preservado de todo o erro. Por isso as suas definições
são sempre irreformáveis.
[50] Martins Zuquete, A. E.
(2000). Nobreza de Portugal e do Brasil
(3ª ed., Vol. II). Lisboa, Portugal: Edições Zairol, pp. 646. Joaquim José da
Costa Rebelo (Braga, 1788 – Braga, 1875) era fidalgo-cavaleiro da Casa Real, cavaleiro
da Ordem de Cristo e da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, e
grande proprietário e capitalista de Braga. Exerceu os cargos de
recebedor-geral da Província do Minho e de provedor da Misericórdia de Braga.
[51] Ibidem, pp. 68-70.
[52] Ibidem, pp. 101-109.
[53] Ibidem, pp. 71-73.
[54] Ibidem, pp. 133. Segundo
o autor, uma escritora que não identifica, terá respondido dessa forma à
pergunta de uma criança.
A imagem que expõe do monumento à Imaculada, no Sameiro, é um postal ilustrado das primeiras décadas do séc. XX e não corresponde à legenda, que indica os anos de 1869-1883. O primitivo monumento à Imaculada, que ali esteve durante esses 14 anos, era muito diferente do da imagem. Para já não falar da capela primitiva, a que chama ermida, também ela muito diferente da igreja que se vê na imagem, que foi começada em 1890.
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