Quando
passámos uma certa idade, a alma da criança que fomos e a alma dos mortos de
que saímos vêm atirar-nos às mãos-cheias as suas riquezas e os seus maus fados,
pedindo para cooperar com os novos sentimentos que temos e nos quais, apagando
a sua antiga efígie, os refundimos numa criação original. (…)
Assim,
os espaços da minha memória cobriam-se pouco a pouco de nomes que,
ordenando-se, compondo-se uns em relação aos outros, estabelecendo entre eles
relações cada vez mais numerosas, imitavam essas obras de arte acabadas em que
não há um único toque que seja isolado, onde cada parte recebe simultaneamente
das outras a sua razão de ser e impõe-lhes a sua.
MARCEL PROUST
in, “À
la recherche du temps perdu”
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