écimo filho de João Rebelo de Almeida e Amaral e de sua mulher D. Mariana Nogueira de Pinho, sou Eu Frei Bernardo do Amaral, indigno Monge de S. Bernardo que por minha curiosidade me sujeitei a fazer esta obra, por não me parecer justo que se perdessem tantos papeis manuscritos que meus Avós deixaram de notícias nesta matéria, não só do que respeitava aos seus tempos, mas também de tudo o que puderam alcançar de antiguidade; e ultimamente o fez meu Tio o Padre D. Manuel dos Santos, e como isto andava por papeis avulsos facilmente o tempo os consumiria, como costuma fazer a tudo; acrescentei-lhe a descendência que houve nas Famílias de que aqui se trata, depois da morte do sobredito meu Tio D. Manuel dos Santos até ao presente para que os vindouros se não queixem do nosso descuido, e omissão, e para que cada um saiba donde procede, e os graus em que está de Parentesco.
D. FREI BERNARDO DO AMARAL
Quando meu Avô António Fernando de
Sequeira Sottomayor iniciou os seus trabalhos genealógicos, dedicou-os à
memória de D. Frei Bernardo do Amaral, seu tio-trisavô, genealogista da
Família. Seus estudos foram amplamente impulsionados pela análise das duas
obras deixadas por esse antepassado: a “Genealogia dos Pinhos, Almeidas e
Amarais”, e a “Genealogia dos Valentes e Silvas”, obras datadas do século
XVIII.
O espírito com que o Frei as redigiu
e que aqui segue supracitado, procurou-o ele também, não escondendo em tempo
algum ser seu desejo que a todos fosse acessível o conhecimento genealógico a
si próprio ministrado ao longo de anos de estudo e investigação.
Cientificamente organizado, esse
conhecimento era porém, excessivamente “hermético” para os leigos na matéria
genealógica, e decerto que o Avô pensara reescrevê-los sob outro ângulo de
abordagem. A sua morte, tão súbita quanto prematura, aos sessenta anos, quando
o seu notável trabalho como Juiz Desembargador o ocupava ainda a pleno
rendimento, impediu tal manifestação, caindo esse saber no esquecimento durante
quase duas décadas. Ficara a sua memória para contar algumas histórias!
Quando em 1983, com cerca de dezanove
anos, o acaso me levou numa inesquecível visita à fortaleza medieval de
Soutomaior, na Galiza, senti um enorme desejo de ressuscitar as histórias, de
renovar o conhecimento e, desde então aceitei o desafio que ao Avô não foi dado
tempo de aceitar. Nos dez anos que se seguiram busquei a melhor forma de
transmitir esses dados, de maneira a que todos de alguma forma a eles
vinculados, ou não, lucrassem quer no conhecimento de si mesmos, quer no da
sociedade em que, melhor ou pior, se encontram inseridos.
Esta obra que vos apresento, passou
por vários estágios de amadurecimento, razão pela qual foi tão elevado o seu
custo, em termos de tempo, antes de ser também vossa, mas ao terminá-la senti
que o desafio estava ganho; valeu a pena o esforço e o tempo empenhado. Eu
mesmo cresci com ela. O produto resultante, alia à ciência genealógica e
heráldica, a ciência social, e nele procurei promover a simbiose entre ambas,
por achar que de outra forma se perderia.
Não pode este trabalho ser entendido
na perspectiva simplória e vaidosa, de uma possível justificação, ou
valorização, dos Meus e, consequentemente, do meu Eu. Que ninguém viva o seu
passado social e genético, com as suas memórias e lembranças, dessa forma tão
fútil e bacoca. Porque a escrevi desinteressadamente mas com paixão, numa
tentativa que se não quer vã, de preservar e transmitir um património cultural
ímpar que nos foi legado pelas antigas gerações de Gentes, também elas amando
os seus, não pelo que foram, mas pelo que eram! Orgulhemo-nos pois
espiritualmente dos nossos maiores, mas antes de tudo, sejamos indivíduos de
quem ainda Alguém se orgulhará!
Dedico todo este esforço e
compensador empenho ao meu Avô António, sem o qual este momento nunca teria
existido; dedico-o também a todos cuja Saudade não esquece, a tantos que não
conheci… e a Nós.
Humildemente proponho-me deixar nas
páginas seguintes, para nosso deleite e o saber das gerações vindouras, as suas
recordações, as nossas lembranças…
Lisboa,
1994
ANTÓNIO
PEDRO DE SOTTOMAYOR
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